Enfado eterno ou a morte

O topo de uma montanha, por mais elevado que seja, não existe sem uma ligação com o solo terrestre. Esta montanha é o Olimpo, um lugar onde as estações não existem, o tempo não muda e tudo se transforma num estalar de dedos. É neste lugar que os deuses vivem, bem nas alturas, mas num lugar que "ainda é terra". Cercado de muros, sua ligação com o exterior é feito através de enormes portas; esse espaço habitado pelos deuses é formado por um conjunto de residências capaz de despertar a inveja a qualquer mortal.
Na morada de Zeus também é o local onde se realizam assembleias e festins, ao passo que as demais casas pertencentes a cada deus só têm a função de acolher seus proprietários para dormir. Além dos deuses, no Olimpo, havia uma equipe constituída por simples mortais, em constante atividade, a disposição deles, o que tornava suas vidas ainda mais enfadonhas, pois nada precisavam fazer. Já não tinham mais prazer para nada. Com isso suas vidas estavam se tornando insuportáveis, a ponto de numa bela manhã, Zeus convocar todos os deuses para uma reunião, onde pretendia junto a eles encontrar uma solução para atenuar o tédio existente. Doze, era o total de deuses convocados e assim que todos chegaram, Zeus deu início à reunião.
- Convoquei-os a essa assembleia para juntos tentarmos equacionar nossa existência. Não é possível mais continuarmos vivendo nesse marasmo. Nada é impossível para nós, porém estamos cada vez mais sorumbáticos e taciturnos. Caso almejemos alguma iguaria, basta que um dedo seja estalado e pronto. O que queremos está a nossos pés, mas não temos mais prazer no que comemos ou bebemos. O tempo passa e nós continuamos como não tivéssemos vivido se quer uma semana. Tudo aqui parece se arrastar num sem fim. Mesmo quando estamos em festa a falsa alegria e o tédio são nossas companhias. Dessa forma onde iremos chegar?
- Zeus, envie Íris numa missão especial até aos humanos. Com certeza ele nos trará subsídios para resolvermos nossos problemas existenciais. Eu estou à beira da exaustão. – Sugeriu Hebe, a deusa da juventude.
- Quem pode nos garantir isso? Eu também como todos estou precisando, mas não creio que consigamos alguma solução por lá. – Duvidou Afrodite, deusa do amor.
- Tendo ou não garantia temos que tentar. A eternidade não pode continuar um enfado. – Incentivou Ares, deus da guerra.
- Mas o que Íris deverá saber? – Perguntou Ártemis, deusa da caça.
- É simples: basta que ele consiga descobrir o motivo de tanta vida e alegria entre os humanos. Sabendo isso nós teremos a resposta para nossos problemas. – Concluiu Atena, deusa da justiça.
Após diversas ponderações chegaram ao consenso do que Íris deveria descobrir junto aos humanos a tão buscada solução. Só os deuses tinham acesso ao mundo, mas lá não se comunicavam com os mortais. Por isso Zeus ordenou que os portões do Olimpo fossem abertos para que Íris, o serviçal de comunicação entre os deuses e os mortais, partisse em sua missão fora dos muros. Após uma semana Íris retornou ao Olimpo. Todos estavam reunidos e ansiosos para saber o ele havia descoberto.
- Então, qual é o segredo de tanto entusiasmo entre eles? Se tudo que eles têm é através do trabalho árduo. Quando querem aumentar suas propriedades têm que fazer a guerra e com isso são dizimados em grandes quantidades. As doenças os consomem e morrem sem a cura. A maioria é explorada por seus governantes e mesmo assim conseguem ser alegre. – Quis saber Zeus morrendo de ansiedade.
- Descobri que eles são possuidores de uma certeza que nós não temos. - Respondeu Íris, sorrindo.
- Do que você está falando? – Gritou Possêidon.
- Que certeza é essa que nos desconhecemos? – Resmungou Dionísio, tão bêbado que mal podia falar.
- É verdade. Que certeza eles podem possuir que nós deuses não a tenhamos? – Protestou Héfesto, soltando fogo para todo lado.
- A certeza da morte. É isso que os faz viver intensamente seus dias sem se importar com as adversidades, pois sabem que a vida é curta. Curtem o que tem, muito ou pouco. Sofrem, mas logo voltam a se divertir. É por causa dessa certeza que eles são da maneira que são; – Guerreiros, lutadores, sofredores e explorados, mas alegres e felizes.
- Mas nós não podemos morrer. – Lamentou Deméter, a deusa da fertilidade.
- E nem, eu quero. Jamais abrirei mão da imortalidade. Desculpem, mas só de saber já estou me sentindo ótima. Por tanto sugiro que passemos a nos relacionar com os humanos para nos distrair. – Recomendou Hera, uma das mulheres de Zeus, a deusa protetora das mulheres e do casamento.
Desse dia em diante várias foram às vezes em que os deuses receberam em suas festas os mortais, no Olimpo, bem como eles os deuses desceram a terra para tocar e se deixarem tocar pelos mortais.
Fernando Antonio Pereira
Enviado por Fernando Antonio Pereira em 28/10/2019
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