Ganhou Mas Não Levou

Por Nemilson Vieira (*)

Um certo rei numa província distante lançou um grande desafio aos seus provincianos.

Consistia em três perguntas básicas, feitas pela própria Majestade Real aos participantes:

A) — Qual o peso do mundo?

B) — Quanto valia a sua vida? — A do rei;

C) — O que pensou ao fazer a segunda pergunta?

Os desqualificados seguiriam para a guilhotina.

Somente o que respondesse mais acertadamente, as perguntas, ganharia à metade do reino e se casaria com a sua filha mais nova.

Pelo risco da competição…

O vultoso número dos inscritos surpreendeu.

Pedro (assim o chamarei) fazia parte desse grande contingente de participantes.

Quem não arrisca não petisca, não custaria tentar. Deve ter imaginado.

Dia chegado bateu um desespero. Não era para menos a sua preocupação.

Nem se sabe se dormiu direito na noite anterior. — Por medo de não dar conta de responder os desafios e perder a vida de graça.

Mesmo numa súbita melancolia lembrou-se do Paulo, um dos irmãos; se pôs a procurá-lo até encontrá-lo.

Pediu-lhe uma ajuda em desespero…

Paulo não podia perder aquele irmão tão drasticamente e procurou ajudá-lo.

Propôs-lhe uma possibilidade viável para a resolução do problema.

Como se pareciam bastante, fisicamente, Paulo percebeu que poderiam tirar vantagens disso.

Unidos como a carne e a unha; por ele e para ele faria o possível e o impossível…

— Troquemos as nossas vestimentas e eu irei por você responder às perguntas da Vossa Alteza.

O Pedro ficou mais aliviado com a disposição do irmão.

Dia chegado a lâmina afiada já estava preparada para o serviço.

Soldados da Companhia da Guarda Real, assistiam tudo.

Nada daquilo atemorizava o resignado irmão de Pedro, o Paulo.

Momento chegado lá estava ele — como se fosse o irmão.

O rei perguntou:

— Qual o peso do mundo?

— Não me furtarei ao honroso dever de informar-lhe majestade, com exatidão, o peso do mundo. Desde que me garanta remover dele, paus e pedras. — Faça-me tão-somente isso e direi-lhe.

O rei não daria conta de fazer aquilo tudo. Sem palavras passou para a pergunta seguinte:

— Quanto vale a minha vida?

— A sua vida, nobreza, é igual à vida dos seus pais, esposa e filhos. Não tem preço. Mesmo alguém com toda a riqueza do mundo não poderia comprar, caso estivesse à venda. Essa dádiva que recebemos não tem preço.

O Rei Carlos bateu na mesa com a pedra do anel e houve um silêncio profundo. — Pediu um intervalo à comissão julgadora e uma licença ao desafiado. Se dirigiu à residência Real.

No interior da mesma encontrou a rainha em prantos, abraçada à filha.

Temerosa de perder a linda princesa e a metade do reino para aquele desconhecido que respondia com sabedoria e autenticidade, as perguntas que lhes eram feitas.

O rei pesaroso por ter ocasionado aquela situação vexatória, ao promover tal desafio, a consolou. Pediu-lhe que o fizesse um pedido.

Sem demora a mulher o fez:

— Amor bem sabe que a amo…

Ainda falta uma pergunta; pelo jeito irá vencer. Faça o seguinte: desapareça com esse sujeito. 

A nossa vida, família e fortuna estão em jogo…

O rei voltou do intervalo e fez-lhe o terceiro e último desafio:

— O que pensei quando fiz a segunda pergunta a você?

— Vossa Alteza, no momento em que, fez-me a segunda pergunta pensou de ser eu, o Pedro.

Estava, e ainda está, redondamente enganado; na verdade, eu sou o Paulo o irmão dele.

O Paulo acertou precisamente a pergunta da majestade. — Fora aquilo mesmo que o rei havia pensado.

Ao saber da trapaça ordena à sua guarda que a prenda.

Era tarde demais…

O Paulo o único vencedor daquele desafio já havia vazado no mundo. — Fugido para as montanhas além, ao desenvencilhar da guarda e da multidão.

Não casou com a filha do rei, nem tomou posse da metade dos bens da Coroa Real, mas salvou da morte a si e ao irmão que tanto amava.

*Nemilson Vieira

Acadêmico Literário

(18:09:18)

Nem1000son@gmeil.com