O Maior Adivinhador do Mundo

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

Começou a faltar as coisas na casa, pois, as economias do casal não iam bem…

— Mulher, eu vou dar de adivinhar, ficar rico; deixarei a enxada, a foice, o machado e não trabalharei mais com isso.

— Como assim, homem?

— Eu posso ser um adivinhador; o rei vai pagar uma fortuna a quem adivinhar três perguntas sua; irei concorrer, vou fazer uma inscrição e ganhar essa riqueza.

Os muitos participantes, que não souberam responder às perguntas, superlotavam um velho porão do Palácio. — A sobreviverem de angu e couve. Só sairiam de lá se aparecesse alguém para adivinhar o que o rei queria saber. Do contrário morreriam de maus tratos e inanição naquele escuro calabouço.

Com filhos para criar a mulher preocupou-se com esses planos; temia pela vida do homem que amava, preocupou bastante com a sua atitude, na participação desse desafio.

— “Olha bem Grilo, a encrenca que estás a se meter; ao procurar a morte. Não irei com meus filhos a esse evento. Nunca vi uma pessoa boba assim. Considere-se um homem morto.”

O Grilo não ligava com o que a mulher dizia.

Apresentou-se na portaria do palácio real com as vestimentas aos trapos; uma calça de pano escuro com remendos brancos atrás; como um olho de palhaço…

Confundiu o porteiro: — O que o senhor deseja?

— Vim fazer o cadastro para responder às perguntas do rei. — Bem se for para isso pode entrar!

No dia marcado aguardou numa fila a sua vez.

Diante da Majestade ouviu atenciosamente o que tinha a dizer.

Com uma mão côncava sobre a outra, o rei fez a primeira pergunta:

O que tem dentro das minhas mãos, senhor?

Ele pensou, pensou e ponderou: bem que a minha esposa vivia a dizer: "o Grilo vai morrer".

O rei confirmou. Você acertou em cheio: é mesmo um grilo, e está vivo!

A multidão dos menos favorecidos presentes, vibrou! — Pelo lado de fora do pátio a torcer para o Grilo. Os ricos pelo lado de dentro, a torcer contra.

Houve um intervalo duns dias para a continuação do desafio.

Por haver acertado a primeira pergunta a fama do Grilo correu as cercanias do lugar; apareceu pessoas de todos os cantos para conhecê-lo.

Cenário montado, lá estava o Grilo pronto para a próxima pergunta.

O rei atravessou a sala de estar da residência oficial com o Grilo, apontou um cômodo a ele e o perguntou o que havia no seu interior.

O Grilo apertado lembrou-se das palavras da esposa: "a primeira pergunta você acertou mas, na segunda a porca vai torcer o rabo…"

O rei nem esperou o Grilo terminar de falar vociferou: acertou novamente: é uma porca mesmo!

Pediu ao povo que o aplaudisse!

O cartaz, a moral do Grilo fora às alturas ao acertar a segunda pergunta.

Novamente houve um intervalo para a culminância do desafio e o público dobrou de tamanho para festa final.

O rei preparou um banquete bonito ao povo para o encerramento do evento. O Grilo era o personagem central da história, o dono da festa.

A euforia, a ansiedade tomava conta de todos os presentes; o Grilo confiante como sempre, nem se lembrava das palavras de desânimo da esposa.

O risco de dar errado era grande, mas, precisava seguir; afinal as duas etapas significativas havia vencido.

Tudo estava preparado: soldados a postos para levar à prisão o Grilo, como um derrotado ou, ao cume da glória como um grande vencedor.

Foi mostrado pelo rei, ao Grilo, os utensílios do Palácio, havia uma jarra de ouro puro em destaque numa redoma.

A majestade pediu ao povo que aplaudisse o moço antecipadamente, ao perceber o seu grande potencial na arte da adivinhação e por ser um instante de muitas expectativas. Chegada a reta final do desafio... O rei fez a última pergunta.

— Senhor diga-me que substância há dentro desta jarra de ouro? — Apontando-a com o dedo indicador.

Aquilo deixou o Grilo de cabelos brancos, saber ele não sabia mas calado não devia ficar e, mãos à obra:

— Ainda bem que a mulher lá em casa alertou-me sobre as minhas adivinhações: segundo ela isso iria resultar em merda.

— Exatamente! — Disse o rei. São inscrementos que há na jarra e, declarou ser o Grilo o vencedor do desafio.

Com todas os méritos e honras o rei determinou o início das comemorações ao grande vencedor…

Diantes dos abraços, e dos dizeres: eu nunca imaginei encontrar-me com o maior adivinhador do mundo.

*Nemilson Vieira de Morais

Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.

(11:12:20)