O Sol e a Lua

Existem diversas histórias sobre como Deus criou a Terra e tudo o que existe nela, entretanto poucos sabem que nosso planeta é apenas o resultado de testes anteriores fracassados. Um deles, foi a criação de Marte.

 

Quando feito, o planeta vermelho só possuía dois habitantes: um chamado Sol e outra chamada Lua. Eram um casal apaixonado, com a missão de cuidar do local em que viviam e povoá-lo com muitos descendentes.

 

Porém, os dois sofriam muito com a falta de comida e água, a cada dia sentiam-se mais fracos. Tudo isso culminou no fato de falharem em ter filhos, contrariando o desejo do Criador. Se não conseguiam sustentar nem a si mesmos, não conseguiram proteger outro ser. Tentavam ao máximo tirar energia da companhia um do outro, e parecia que daria certo por um tempo.

 

As condições em Marte ainda não eram as ideais e muitos ajustes precisavam ser feitos. Infelizmente, os dois marcianos chegaram no momento em que o planeta se mostrou mais forte que eles. Vendo os seres que criou morrendo, Deus resolveu transformá-los em outra coisa para salvar-lhes a vida.

 

Fracos e famintos, sentindo a energia do existir partindo, o casal se abraçou. Sentiam que, agarrados no corpo do outro, conseguiriam compartilhar suas vontades de continuar e conquistar o alimento necessário para tal. Entretanto, eles jamais seriam mais fortes do que o poder que arrancava suas almas para um ponto além. Em um último toque, o casal se beijou pela última vez.

 

Quando deram por si novamente, perceberam que seus corpos possuíam uma nova forma. Os dois marcianos eram naquele momento bolotas enormes rodeando uma terceira. Não sabiam o que estava acontecendo, apenas que estavam longe de sua cara metade. No desespero, tentaram rolar em direção ao outro, entretanto a tentativa foi falha. Infelizmente, eles sempre se desencontravam.

 

Logo perceberam que não estavam ali à toa, Deus incumbiu um papel essencial para o casal. Eles fariam parte do novo planeta em construção, colaborando para que lá fosse menos inóspito que em Marte. Cada um tomava conta do novo mundo em um período diferente e era impossível burlar o revezamento.

 

Os dois novos astros não sabiam muito bem que função deveriam exercer e seu sofrimento com a distância não facilitou a tarefa de encontrá-la. O Sol foi mais forte que a Lua e conseguiu superar a separação mais rápido, descobrindo que sua missão era emitir calor para aquecer os seres de onde ficou conhecido como Terra. Seu fogo era tão intenso que olhando de longe já nem se percebia mais sua dor, a tarefa já era feita com altíssima qualidade.

 

Já a Lua, sofreu muito mais durante um período bem maior. Querendo ajudá-la, Deus deu-lhe amigas estrelas para fazer companhia enquanto não se adaptava a nova condição, porém ela sentia muita falta de seu amado. Por mais gentis e compreensíveis que as estrelas fossem, nada era capaz de animá-la quando se sentia minguante. Aquele buraco gerado pela falta de seu antigo companheiro não podia ser preenchido por mais ninguém.

 

Quando ela parecia não aguentar mais, derramou toda a sua dor em lágrimas que regaram a Terra enchendo-a de potencial vivente. As gotas vindas da Lua fizeram rios e mares, que Deus utilizou para criar a vida. Por estar intensamente conectada com aquela água que caiu de seus olhos, ela percebeu que sua função seria controlar as marés.

 

Ela foi muito responsável a partir do momento em que descobriu seus deveres. Pretendia usar seu trabalho para esquecer seu amado, qualquer um que a observasse poderia ver a maneira mecânica com que tudo isso acontecia. Infelizmente para o astro, ela falhou em encontrar um sentido e fonte de alegria no que fazia enquanto esteve sem ele.

 

Deus foi conversar com a Lua, tentou mostrar a ela que agora tinha um brilho próprio. Afinal, graças às lágrimas lunares, era possível que os terráqueos vivessem com qualidade em meio às águas. Mesmo assim, ela não conseguia sentir-se cheia sem seu amor, e permanecia minguante.

 

Durante sua velha rotina de usar seus novos serviços para esquecer o Sol, a Lua foi surpreendida por um presente: um eclipse. Quando viu que poderia estar junto de seu querido, a alegria foi tanta que finalmente sentiu-se cheia e pôde fazer suas tarefas com amor. Afinal, cada maré controlada era uma a menos que teria que realizar longe do Sol.

 


 

Fabela do sol e a lua

 

Voava um passarinho, displicente,

no céu de uma manhã ensolarada,

quando ouviu, do sol, a voz a cansada

pedir-lhe um favor demais urgente:

 

— Imploro, ó meu pequeno mensageiro,

que voes noite adrentro até a lua

e diga-lhe, assim, que o sol cultua

seus raios de luar tão verdadeiros...

 

O pássaro seguiu, obediente...

em voo raso, rumo ao sol poente,

até o véu da noite lhe cobrir...

Enfim ouviu, da lua, a voz tristonha

dizer-lhe da tristeza e da vergonha

de ser um vil espelho à refletir.

 

(interação do poeta Herculano Alencar)