INÉDITO: Prefácio do livro "Cursinho Teatro do Ensino Feliz"

"Sou de uma época em que os mestres nos diziam: “aluno que não ouve com os ouvidos, ouve com a bunda”. E pimba, um reguaço que, por vezes, nos fazia sentar de ladinho. Soube também que antes disso havia palmatória, entre outros castigos medievais. Não sei se dava certo, pois não é crível que o flagelo físico multiplique neurônios. Enfim, o ensino regular de antanho não tinha cintura nenhuma. De certa forma, de tanto sofrer rigores, as juventudes descobriram suas forças, posicionaram-se, construíram espaços e modificaram o mundo. Na marra, não mais, e entre perdas e ganhos sobrevivemos todos mais leves.

Na ressaca do surubão de Woodstock e na liberação do “black power”, grito até então sufocado, lá no início dos anos setenta surgiu uma casta revolucionária do bem, disposta a democratizar o acesso às universidades: os professores de cursinho! Saíamos então dos bancos escolares, onde conversar na aula “tirava ponto” e ingressávamos numa comunidade que abria a possibilidade de discutir o resultado de dois mais dois, aberta e francamente. No lugar do cenho franzido dos antigos mestres encontrávamos sorrisos amplos, que faziam piadas sobre nossas aflições, como uma professora de grandes seios que se apresentava como hipotenusa.

Quem começou e onde começou, não sei precisar. Mas por certo que o Cursinho pré-vestibular é uma iniciativa brasileira. Tem a cara do melhor Brasil.

Neste livro Cursinho, teatro do ensino feliz, vigésima terceira obra do mestre Fulgêncio, cidadão do mundo e consagrado Cidadão de Porto Alegre, há muito de resgate, mas é também um manifesto de gratidão à vida. É autobiográfico e mais um capítulo de sua história generosa onde quase não se notam coadjuvantes. Todos, alunos e professores, são personagens".

Jair Portela
Cidadão de Uruguaiana