Juizes dos fatos e juízes da história - o interesse no desagravo de Collor e a morte do "ambientalista" do Pará...

Juízes dos fatos e juízes da história – o desagravo de Collor e a morte do “ambientalista do Pará...

Esta semana, assisti, aos engulhos, uma entrevista na qual o presidente do Senado Federal, uma entrevista José Sarney (que também acumula o cargo de donatário da capitania geral e hereditária de São Luiz do Maranhão) afirmou que a deposição do ex-presidente Fernando Collor foi um exagero ou talvez equívoco e, que os fatos em torno dela não eram tão relevantes, a ponto de serem reputados como históricos e, merecerem tal classificação e tratamento.

O modus operandi de Sarney já é manjado. No caso, se não está advogando em causa de seus interesses corporativos, está advogando em favor daqueles que, enfim, viabilizam a concreção de seus imensos interesses corporativos (que, no caso de Sarney não se fala em vantagens, simplesmente, tão dantesco é o seu apetite...), isto é, a nomenclatura petista instalada nos gabinetes dos três poderes de Brasília.

Desde a semana passada, assisto, igualmente enojado, em todos os programas jornalísticos televisivos, em vez de investigação jornalística em torno de um fato e as circunstâncias que o envolveram - a morte de um perigoso assentado da reforma agrária no estado do Pará, o esforço no sentido de enquadrar um fato dentro de uma determinada perspectiva e agenda política.

Especialmente ontem, durante um telejornal do SBT e esta manhã, durante o jornal Bom Dia Brasil, da rede Globo, fiquei estupefato com a incrível vontade de produzir mais que um fato, uma sentença, em torno da questão - Mirian Leitão incluída e, esforçando-se tanto que chegou a mentir descaradamente diante das câmeras.

O cara era "ambientalista"? Pode ser. O cara era razoável na sua prática ambientalista? O fato de ter se juntado a um irmão e matado a sangue frio a um colega de acampamento por questões relacionadas à gestão das terras do assentamento em que vivem, dizem o que é preciso a respeito - era um assassino, que se mantinha impune graças à benesse concedida pelo governo paraense, que decidiu deixar o tal assassinato sem a devida persecução penal, a despeito de não haver qualquer dúvida sobre o fato criminoso ou sua autoria...

O tal ambientalista não passava de um tipo fanático e violento. No entanto, as baterias da imprensa, dos movimentos ambientalistas e do governo estão voltadas para os chamados grandes proprietários de terra da região, que muito provavelmente não tem nada com este lamentável acontecimento, em particular...

Qual á a identidade das duas situações? É que, tanto Sarney quanto a imprensa brasileira, se arrogam ao direito de dizer o que é relevante ou não, histórico ou não, correto ou não e, evidentemente, verdadeiro ou não.

Nem Sarney, nem a imprensa brasileira aceitam mais a aceitar o seu destino ou papel. Sentem-se capazes e no direito de julgar, pela ordem, os fatos históricos e os fatos noticiosos.

E isto é apenas mais um sintoma de que o nosso sistema político está falido e não se presta a levar o Brasil e sua frágil democracia a lugar nenhum, no caso do primeiro e, que a falência dos órgãos de imprensa tem muito a ver com a contaminação de suas redações com a militância política, seja ela qual for.

Collo virou santo depois que o tempo passou e ele passou a lamber as botas do lulo-petismo?

Os ambientalistas são santos, pelo simples fato de se dedicarem à causa ambiental?

Ora, se a história pode ser objeto de revisão, ela também pode ser objeto de construção, de parte dos demiurgos da política. E aí, se torna fatalmente, simples mecanismo de propaganda - à parte, a dispensa dos historiadores e da pesquisa histórica.

E se a imprensa, em vez de investigar e noticiar fatos passa a se pautar e propagandear a agenda de determinadas agendas políticas, deixa de ser imprensa e vira mero departamento de propaganda de determinados grupos políticos - no caso do ambientalismo, podem se transformar em verdadeiros sarcedotes daquilo que, mais e mais, se parece com uma religião.

Mas, o resultado, em casos assim, é sempre o descrédito. Pode demorar, pode não ser notado ou entendido, mas o descrédito, mais cedo ou mais tarde, chega...

São breves anotações. Depois volto, para complementar minha reflexão...