O que é isto, a filosofia?

Wilson Correia

“Se se deve filosofar, deve-se filosofar e, se não se deve filosofar, deve-se filosofar; de todos os modos, portanto, deve-se filosofar” (Aristóteles, ‘Protréptico’*: fragmento 51. Trad. A. Buela. Buenos Aires: Cultura et Labor, 1993, tradução adaptada para o português).

A pergunta “O que é isto, a Filosofia?” expressa a atitude filosófica. E quando o não-filósofo a verbaliza pode-se entender que o perguntador está colhido por essa atitude. Essa indagação tem sentido filosófico não porque esse sentido possa ser constatado na frase mesma, posto que uma frase nunca será mais que uma frase, mas, sim, no perguntador, naquilo que se passou no entendimento e na mente dele que o fez verbalizar ou escrever o seu problema sobre o ser da Filosofia. Eis aí o princípio da atitude filosófica, a qual, logicamente falando, faz o acontecimento cognitivo preceder a verbalização, a escrita. Verbalizar é apenas a tentativa de formular algo que se passa internamente ao sujeito e o mobiliza rumo ao ponto de interrogação. E, aí, não apenas a materialidade gráfica das palavras escritas é “empurrada” para o segundo plano, mas, também, e sobretudo, a resposta possível a essa pergunta. E tanto é assim que, enquanto aquele acontecimento cognitivo-interrogativo continua vivo no interior do sujeito, dinâmico, as formulações verbalizadas para a pergunta e a resposta também permanecem no âmbito da impermanência, mudam conforme o trabalho do entendimento. Desse modo, a pergunta do não-filósofo é, em si mesma, a expressão dessa atitude filosófica e para quem pergunta não adianta falar sobre filosofia como se mostra um retrato. O não-filósofo não quer uma imagem. O que ele busca é compreensão.

*"Protréptico" = Exortação.