Acho que é empatia

ESTOU A OBSERVAR CADA UM DE VOCÊS... cada um de vocês nos ônibus e trens e metrôs da vida.

Estou a observar suas dores, seus velhos e novos amores, seus assassinatos e seus suicídios.

Não sou espiã nem nada. Mas é que muitos já julgam vocês, eu tento trazer a paz.

Eu tento adivinhar se você está de ressaca na manhã que foi trabalhar. Tento saber se seu coração ainda bate ou se só apanha.

Tento ler teus olhos e seus lábios mordidos.

Tento sentir sua mente girando, teu corpo levitando enquanto estou passando por você na rua mais movimentada da cidade.

Tento saber o quanto já amou. O quanto já odiou. Se suas mãos tem o sangue de um inocente. Se você já está morto, mas ainda é um sobrevivente.

Eu gosto de analisar cada pessoa que passa diante destes olhos porque não custa nada se colocar no lugar do outro.

Não custa nada ver que aquele maldito bêbado talvez só esteja sofrendo e buscando na bebida o aquecimento que ele teria num abraço de chegada ou despedida.

Aquela criança, de olhos grandes, retraída ou agressiva, sente falta de um colo e um beijo na testa.

Meu nobre Mendigo, quem te nomeou assim?

Tua humanidade está escondida por baixo dos trapos e do fedor da miséria. Mostre-a pra mim que eu quero ver.

Muitos de nós são evoluídos, falam bonito, escrevem maravilhosamente bem. Mas por baixo de toda esta grife e notoriedade, mora alguém?

Thina Freitas
Enviado por Thina Freitas em 19/12/2017
Reeditado em 19/12/2017
Código do texto: T6202629
Classificação de conteúdo: seguro