Solilóquios
Sumo, suco, turbulência… suculência. Eis que o mundo vegetal assombra e encanta aqueles que conhecem a vitalidade de uma planta.
Qual é a essência do viver se não a distração que as luzes e as cores proporcionam, se não tudo aquilo que corre e passa, mas eternamente nos chama?
Dimensões transparentes, passagens para a alma, um dia ensolarado guarda o segredo dos prismas mágicos e da vida aqui ao lado de dentro.
Sonhar alto, pensar grande e vislumbrar o reflexo do caráter em águas que se tornaram profundas.
A penumbra desses mares me ensinou a navegar nas sombras, a fundir-me nelas sem me afogar, e acima de toda superfície, a notar a melancolia serena que a espuma das águas que me banham, também me traz.
Tudo é simples e óbvio, mas tudo é também complexo e difícil.
Tudo é abstrato, inatingível, eterno.
Quantas nuvens cobrem aquele céu que é só seu? Oh séus!
Era de poucas palavras, e de muitas ao mesmo tempo.
Caminhei de norte a sul e de leste a oeste, mas foi apenas em uma vereda, longe de qualquer bússola ou vento, que encontrei o que eu tanto procurava.
Sofro de vazões, mares deságuam nos rios que me correm. Eis o preço que se paga por transbordar sonhos. Nada me ensinou a caber na métrica do mundo, nunca aprendi a pertencer a algum lugar.
No cascalho de nossas andanças, cultivei o solo que hoje suporta meu ser.
Páginas já amarelecidas depois de uma dolorosa espera por uma pena, um lápis, uma caneta, uma lágrima, um romance, um breve gesto. O que restou daquilo que nunca foi escrito e deixado no claustro? As traças conhecem todos os detalhes dessa história jamais contada.
Avistei as janelas dolorosas decorando as casas triste da rua fatal que me trazia o descanso, a desavença e o tédio naquela hora da tarde que anuncia a morte de cada dia. Fiz do meu lar o obituário de minhas noites sentidas e das horas consumadas pela palavra escrita, tudo é motivo geratriz de minha insônia, a vida, os vazios, os poetas e os poentes.