Céu de Baunilha

Esse cheiro Doce

Eu o Reconheceria até no fogo eterno

Sim

Sem dúvida

Sem desconfiança

Esse cheiro traz lembranças

Que um dia me fizeram passar por entre o céu e inferno

Uma pitada de flores e mel

Que por coincidência o nome do perfume começa com "céu"

O único céu que me tinha

Digo sem gaguejar

O único céu que essa alma pecaminosa

Se ajoelharia (e se ajoelhava) pra entrar

Desse céu foste banido

Caído, mas não anjo

Onde Fores

Um misto de amores

Flores

Dores

Ferido e nu

Foste tu

Que me atiraste pra fora

Como um papel toalha

Como que de nada se valha

Nem valeria

Sem olhar pra trás

Sendo o próprio algoz

Piedade alguma

Do que viria após

Em meio a aos cantos e cantares

Pelos cantos

Pessoas e olhares

Ébrio

Pés e mãos submersos

No véu entre os universos

Bailava e cantava disperso

Visão turva

Sentidos alterados

Era eu

Despido, descalço

No embaraço dos pés trocados

Mas o cheiro

Não sai

Não Passa

Sinto

Lembro

Não Passa

E como um baiano legítimo

No ritmo que estava

Ergui a taça

Estufei o peito

Não teve jeito

Eu gritei "Disgraça"

Em alto e bom som

Em alto e claro tom

Esse cheiro novamente

Nas narinas, na mente

Momentos envolventes que as vezes me perco

E quando percebo já vivi

Me lembro da primeira vez que senti

É como se sentisse de novo

Mas não do mesmo jeito

Uma angústia no peito

Um desgosto

Uma repulsa

Meu sangue pulsa

Mas não do mesmo jeito

Não no mesmo peito

Eu sei

Não é mais o leito que um dia foi

Então Rejeito qualquer vestígio

Qualquer indício

Qualquer fagulha

Cortada

Qualquer investida

Podada

Pra ter o meu próprio céu

Onde só entra cobra com asa.

Eugênio Rodrigues
Enviado por Eugênio Rodrigues em 19/10/2020
Código do texto: T7090969
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