Céu de Baunilha
Esse cheiro Doce
Eu o Reconheceria até no fogo eterno
Sim
Sem dúvida
Sem desconfiança
Esse cheiro traz lembranças
Que um dia me fizeram passar por entre o céu e inferno
Uma pitada de flores e mel
Que por coincidência o nome do perfume começa com "céu"
O único céu que me tinha
Digo sem gaguejar
O único céu que essa alma pecaminosa
Se ajoelharia (e se ajoelhava) pra entrar
Desse céu foste banido
Caído, mas não anjo
Onde Fores
Um misto de amores
Flores
Dores
Ferido e nu
Foste tu
Que me atiraste pra fora
Como um papel toalha
Como que de nada se valha
Nem valeria
Sem olhar pra trás
Sendo o próprio algoz
Piedade alguma
Do que viria após
Em meio a aos cantos e cantares
Pelos cantos
Pessoas e olhares
Ébrio
Pés e mãos submersos
No véu entre os universos
Bailava e cantava disperso
Visão turva
Sentidos alterados
Era eu
Despido, descalço
No embaraço dos pés trocados
Mas o cheiro
Não sai
Não Passa
Sinto
Lembro
Não Passa
E como um baiano legítimo
No ritmo que estava
Ergui a taça
Estufei o peito
Não teve jeito
Eu gritei "Disgraça"
Em alto e bom som
Em alto e claro tom
Esse cheiro novamente
Nas narinas, na mente
Momentos envolventes que as vezes me perco
E quando percebo já vivi
Me lembro da primeira vez que senti
É como se sentisse de novo
Mas não do mesmo jeito
Uma angústia no peito
Um desgosto
Uma repulsa
Meu sangue pulsa
Mas não do mesmo jeito
Não no mesmo peito
Eu sei
Não é mais o leito que um dia foi
Então Rejeito qualquer vestígio
Qualquer indício
Qualquer fagulha
Cortada
Qualquer investida
Podada
Pra ter o meu próprio céu
Onde só entra cobra com asa.