Quem provou do ardor do meu chicote / nunca mais quis saber de cantoria

Se a disputa em martelo agalopado

fosse aposta em cavalo de corrida

e os nossos ouvintes a torcida

eu vencia este páreo disparado

Mesmo dando a largada atrasado

o primeiro da fila alcançaria

Tão veloz como o vento assovia

eu botava o meu bafo em seu cangote

Quem provou do ardor do meu chicote

nunca mais quis saber de cantoria

No mercado de ações de um repente

muitos crescem usando o caixa dois

e essa falsa receita trás depois

a falência do vate inadimplente

Se o talento for moeda corrente

o poeta não faz oligarquia

Quem verseja fazendo economia

fica sem capital e dá calote

Quem provou do ardor do meu chicote

nunca mais quis saber de cantoria

Quem trouxer o seu dom num caminhão

meu talento eu carrego numa frota

Para quem ansiar minha derrota

já faz tempo que eu sou um campeão

Se você der um tiro de canhão

eu respondo com minha artilharia

Se você tem o choque da enguia

minha força é igual do cachalote

Quem provou do ardor do meu chicote

nunca mais quis saber de cantoria

Uma vez conheci um cantador

que gabava seu estro e sua voz

Na resposta dizia ser veloz

e a garganta era a mesma de um tenor

Nesse dia eu botei nele um pavor

que seu verso ninguém mais entendia

Nem mostrar o seu timbre não podia

pois ficou com um nó na epiglote

Quem provou do ardor do meu chicote

nunca mais quis saber de cantoria

Há quem diz que na arte é bacharel

com o mais alto grau de uma escola

mas quando vai tocar uma viola

quando muito é apenas um bedel

Se o colega não for um menestrel

eu nem deixo entrar na academia

pois tem muito calouro em poesia

que tá sempre caindo no meu trote

Quem provou do ardor do meu chicote

nunca mais quis saber de cantoria

Carlos Alê
Enviado por Carlos Alê em 01/09/2008
Reeditado em 16/11/2011
Código do texto: T1156533
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