O HUMUS DAS CHAGAS
«Glosando ideias»
“No fim do tempo da Páscoa
Com tantas flores de alegria
Ficou-me ainda esta chaga
E outras mais que não queria.”
Abel da Cunha
Frassino Machado:
No fio do vento que passa
As sementes da Páscoa vencida
Germinam no tempo com graça
As chagas da própria Vida.
Nos monturos e nos baldios
Contracenam em harmonia
Estas flores e os desafios
Por entre abrolhos e alegria.
Há chagas que não se desmentem
Pois andam por fora cá dentro
Nas palavras que nunca mentem
Remexendo com o pensamento.
Há chagas & chagas de mil cores
Iguais às de Cristo na cruz
Quer queiramos ou não são flores
Que ao sangue da gente conduz.
A mística beleza das chagas
E o acre da seiva que têm
Sustentam o húmus das plagas
Pela força que dele provém.
As chagas são flores, são húmus
Quem diria até dão essência
Para uns estranhíssimos sumos
Que apuram a humana existência.
Chagas de uma Páscoa sonhada
Com ressurreição acrescida
São ressonância abençoada
De nova paixão renascida!
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA