Quem sou (Galope à beira mar)

Na época do Orkut, havia um rapaz de segundas intenções, que me importunava muito. Segundo ele, meu perfil era vago, queria a todo custo saber mais sobre mim. Fiz esta poesia e deixei no perfil. Depois disso, ele me deixou em paz. Oh, santo remédio!

Eu sou a defesa de meu próprio brio.

Semente arbitrária em solo fecundo.

Um germinal, mas no ventre do mundo

Sou a criatura que eu mesma crio.

Sou palito aceso que acende o pavio

Da bomba que pode seu mundo acabar.

Quem faz tempo que foi está pra chegar.

Minha chegada será logo cedo.

Sou arma de fogo na ponta do dedo

Nos dez de galope na beira do mar.

Sou arapuca a espera da presa.

Sou o insucesso de sua caçada.

Sou coice graúdo de rês indomada,

Deixando vaqueiro sem sua destreza.

Eu sou a revolta da mãe natureza,

Que faz o humano a conta pagar.

Serpente que pica o seu calcanhar.

No trem da astúcia eu sou passageira.

Deixo você sem eira e sem beira,

Cantando galope na beira do mar.

Eu sou o corisco que desce ligeiro,

Queimando a vazante do agricultor.

Nas noites sem lua eu sou o pavor

De quem se atreve sair no terreiro.

Eu sou a herança do pé de facheiro,

Que fez Lampião seu olho cegar.

Sou seca medonha para esturricar

O choro de quem se mete comigo.

Do cantador ruim eu sou o castigo.

Nos dez de galope na beira do mar.

Do retirante eu sou o cansaço,

Que subtrai o seu desempenho.

Eu também sou moenda d'engenho

Resumindo a cana a puro bagaço.

Sou a força que move a queda de braço

Entre o galináceo e o Carcará.

E na tarefa mais árdua do lar,

Sou vara de açoite, sou mão de pilão,

Com que a roceira castiga o grão

Cantando galope na beira do mar.

Maeli Honorato
Enviado por Maeli Honorato em 30/06/2016
Reeditado em 04/07/2016
Código do texto: T5683772
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