DELÍRIO
OS PARCEIROS
MOTE
Sonhar é acordar-se para dentro:
de súbito me vejo em pleno sonho
Mario Quintana
GLOSA COM MOTE MIGRANTE
É madrugada. Da janela,
restos do ontem perambulam.
Observo, com estranheza no olhar.
Há miasmas de fantasmas,
na calçada, em prontidão.
Pensamento vagueia, curioso:
vontade de à cama retornar.
Estico-me entre meus lençóis sedosos.
Sonhar é acordar-se para dentro:
de súbito me vejo em pleno sonho.
Porque o mundo do meu eu
a cantar, grita e festeja o porvir,
delira, encanta e planeja as quimeras,
meu corpo descansa neste balanço,
que vivência e bem-estar me concede,
mesmo a perambular choro lá fora.
Sonhar é acordar-se para dentro:
de súbito me vejo em pleno sonho.
Gratidão nos abraços da esperança
alimenta minha alma sem cessar.
Bateu três horas, no relógio da parede.
É noite de primavera e há luar.
Com meu corpo aquecido sobre a cama
Escuto um galo ao longe a cantar.
Sonhar é acordar-se para dentro:
de súbito me vejo em pleno sonho.
Anúncio do dia logo a romper,
trazendo poemas a concluir
e estratégias para o outro alegrar.
A vida é um gargalhar de surpresas.
Preciso de um preparo pra filtrar,
a fim de não cair em armadilha.
Sonhar é acordar-se para dentro:
de súbito me vejo em pleno sonho.
O sol promete raios e calor;
pássaros a mergulharem na fonte,
respigam sons e, com as fantasias,
o meu ser emerge, a alma cantarola,
preparando-me para o alvorecer.
Sonhar é acordar-se para dentro:
de súbito me vejo em pleno sonho.
Desperta pro hoje que bate à porta,
recobro a quimera dos de ideais.
As agruras e os incômodos, que são tantos,
continuo empurrando-os pra trás,
pois sigo festejando o novo dia
com olhos no futuro glorioso,
mantendo a gratidão aos ancestrais.