O VENTO DA SECA

Faminto feito mendigo

O pobre não tem escolha,

O campo sem uma folha,

Sem mantimentos no abrigo...

O mais horrendo castigo

Despejou-se no sertão,

Sem pasto pra criação,

Hoje só se vê carniça.

O vento da seca atiça

O fogo da precisão.

Quem vai ao sertão descobre

Que nos fogões fora a lenha

Não há casebre que tenha

Alimento para um pobre,

Esperando um gesto nobre

De um político de ação,

Sofre o roceiro sem pão,

Esguio que nem treliça.

O vento da seca atiça

O fogo da precisão.

Com esta seca inclemente

Os açudes não têm água,

O sofrimento e a mágoa

Consomem todo vivente;

Nos grotões a pobre gente

Na hora da refeição,

Se tem farinha e feijão

Não tem ovo nem linguiça.

O vento da seca atiça

O fogo da precisão.

A estiagem constrange

O vulnerável matuto,

Que assim como bicho bruto

A seca inclemente tange;

O vento da fome range

Na porteira do verão,

Se um boi arria no chão

O urubu aterrissa.

O vento da seca atiça

O fogo da precisão.

Dideus Sales
Enviado por Dideus Sales em 14/12/2021
Código do texto: T7407196
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