O Ensino da Língua Portuguesa ao Longo do Ensino Médio. Preparando o Aluno para o Ensino Superior e Mercado de Trabalho

O concluinte do ensino médio que ingressa na faculdade, na maioria dos casos, terá em algum ano do curso superior – geralmente o primeiro – a disciplina Português Instrumental ou qualquer outra relacionada à língua portuguesa; isso o faz se deparar com conteúdos que não aprendeu ao longo do Ensino Fundamental e Médio, o que, muitas vezes, impede a compreensão dos conteúdos do curso, principalmente quando esse aluno é proveniente do ensino público.

Não é viável, nos últimos anos do ensino médio, o professor passar conteúdos que não serão cobrados pela sociedade em um futuro imediato. É necessário traçar um plano de ensino conveniente às necessidades exigidas pela sociedade. Pensando nisso, esse trabalho visa à elaboração de um plano para os últimos anos de ensino médio que torne o estudante proficiente em sua língua materna.

Não é necessário fazer o aluno destrinchar a gramática, é preciso que o professor busque aquilo que ele – aluno - realmente usará da nossa língua na prática.

Levando-se em consideração que gramática é um conjunto de regras de uma língua, pode-se concluir que não aprendendo tais regras, não se domina a língua.

O que se torna maçante nas aulas de português é que os pontos gramaticais são “despejados” para os alunos por meio de teorias sem ser especificado para quais fins aquilo lhe será útil. O estudante de ensino médio já está exausto de ver tanta gramática ao longo do ensino fundamental e precisa ter nos últimos anos do ensino básico explicações sobre a língua que lhe sejam úteis fora da escola. O professor deve analisar o conteúdo que tem em mãos e verificar sua utilidade antes de passá-los para os alunos.

Vale ressaltar que o trabalho está baseado numa proposta para que o aluno saiba usar os elementos da língua portuguesa não só na escola, mas também em qualquer lugar que lhe for exigido.

É preciso entender gramática como parte integrante da língua envolvida num conhecimento lingüístico dos usuários. Partindo desse conceito, a gramática deixa de ser apenas um conjunto de regras prescritivas e normativas. O ensino é contextualizado pelas necessidades do aprendiz e do professor e pressupõe, portanto, uma ligação constante entre ambos e o objeto a ser estudado.

Entre os pressupostos dentro do ensino-aprendizagem da língua portuguesa, o ideal seria que, segundo Freire:

“... as professoras e professores (...) tivessem

uma formação ideológica menos clitista

e mais próxima dos interesses populares,

poderiam, com facilidade, ensinar a sintaxe

dominante.”; o ilustre professor propõe “... que o ensino da sintaxe dominante parta do reconhecimento da validade da sintaxe popular.” ; com isso, tem-se um aluno mais envolvido no aprendizado, já que o mesmo se sentirá mais familiarizado com o assunto, não terá medo de aprender.

Atualmente, a maioria dos jovens não se preocupa com a estrutura da língua, de como usá-la a seu favor e de como aplicá-la corretamente; isso se dá, talvez, pelo desleixo que a educação sofre. Será o professor quem guiará e mostrará a importância da aprendizagem da estrutura da língua portuguesa, das regras gramaticais, mostrando a importância de tal aprendizado, o que tornará o aluno conscientizado e preparado.

O aluno começará a ter essa consciência, a partir de várias demonstrações práticas, viáveis e funcionais no uso da língua portuguesa.

O estudante do ensino médio terá pela frente uma vida social mais ativa, no campo profissional, por exemplo, que exigirá dele esse conhecimento, precisará se valer do padrão da língua para utilizar a fala e a escrita mais adequada aos ambientes onde atua e ter sucesso.

Marcuschi (1998, apud BASTOS, p. 117) nos mostra, no trecho a seguir, o quão influente é o poder da escrita:

“A escrita é tanto uma forma de ‘domínio

da realidade’ no sentido de apreensão do

saber e da cultura, como é também uma

forma de ‘dominação social’ enquanto

propriedade de poucos e imposição de um

saber oficial subordinador. É evidente que

o ideal seria que todos se apropriassem

desse instrumento, mas não temos

sociedades plenamente alfabetizadas, com

domínio da escrita, e sim grupos de

letrados com ponderáveis parcelas de

poder nas mãos.”

Assim, o professor deve conscientizar o aluno, por meio de fatos, sobre a importância de conhecer a norma culta ou padrão da língua portuguesa.

Dentre as gramáticas existentes, as que mais se destacam são: a gramática normativa e a gramática descritiva. Uma é o inverso da outra, e cada uma possui sua importância. É necessário saber dosar ambas, para não cair numa metodologia rotineira que priorize somente uma delas.

Percebe-se um embate ferrenho entre os gramáticos tradicionais e os lingüistas modernos, cada um tem sua concepção em relação à língua. Bagno, lingüista moderno, sobre os gramáticos discorre:

“Do acervo literário que selecionam, eles

pinçam somente as ocorrências que corroboram sua própria visão tradicional do que é ‘certo’ e ‘recomendável’ (...). Não importa se um mesmo grande escritor, se um mesmo clássico, usou 3 vezes uma forma ‘certa’ e 30 vezes uma forma ‘errada’. Somente as ocorrências que o gramático, de antemão, classifica de certas é que serão estampadas em sua obra como modelos, como ideal perfeição idiomática, como ‘norma culta’” (2007, p. 162).

Ou seja, posiciona-se claramente contra uma gramática prescritiva e diz, ainda, que tais defensores dessa gramática só utilizam trechos literários de um certo autor que corresponda à sua visão, logo, podemos entender que, segundo Bagno, até mesmo os gramáticos tradicionais caem na contradição daquilo que pensam, pois se usou aquele ou este autor como exemplo de utilização da norma culta, esse autor deveria ser fiel à tal formalidade em toda sua obra, o que não acontece, segundo o lingüista.

Só que os mesmos lingüistas defensores da gramática descritiva, de uma liberdade de escrita e de fala, em seus livros usam corretamente a escrita, as regras gramaticais, palavras difíceis como “compêndio”, “ínfimo”, entre outras; sendo assim, como um indivíduo com conhecimentos gramaticais e lexicais limitados poderá se identificar com uma obra que, a princípio, defende uma língua “livre”? Seu entendimento ocorrerá, provavelmente, com alguém mais estudado lhe orientando e um bom dicionário do lado.

Por uma visão mais rigorosa temos Napoleão Mendes, gramático tradicional, dizendo que:

“O professor deve ser guia seguro, muito

senhor da língua; se outra for a orientação de ensino, vamos cair na língua brasileira;

refúgio nefasto e confissão nojenta de

ignorância do idioma pátrio, recurso

vergonhoso de homens de cultura falsa e de falso patriotismo. Conhecer a língua não é privilégio de gramáticos, senão dever do

povo brasileiro que preza sua nacionalidade. (...) Saber escrever a própria língua faz parte dos deveres cívicos...” (1982, p. 07).

Esse é um trecho retirado de sua “Gramática Metódica da Língua Portuguesa”, no qual fica explícita sua posição sobre como o povo se comporta diante da língua brasileira e qual seria o rumo correto. Quando cita “... vamos cair na língua brasileira, refúgio nefasto e confissão nojenta de ignorância...”, quer dizer que o português brasileiro é uma decepção. Mas não dá para entender porque então fez uma gramática para brasileiros e não para portugueses, não vemos em sua obra o uso do “p” e “c” mudos como no português pátrio que tanto exalta.

A escola, mais restritamente o professor de língua materna, tem a responsabilidade de levar até o educando novos conceitos e idealizações que serão internalizados, pois é o aluno que vai construir sua competência para poder expor suas variações lingüísticas. O estudante não deve decorar o que é gramática, pois não é esse o objetivo, a escola não está formando filólogos ou gramáticos, está formando cidadãos que devem saber usar os recursos da língua. É preciso que os alunos tenham um contato íntimo com a gramática, não importa se normativa, prescritiva, internalizada. Entendendo que ela será seu instrumento de aquisição de uma linguagem reflexiva e intercomunicativa tanto na fala quanto na escrita.

As propostas a seguir visam a uma prática de escrita e leitura, para a qual é necessária uma base gramatical; são conteúdos que rodeiam o universo em que o aluno de ensino médio, provavelmente, se lançará futuramente, ou seja, faculdade, trabalho, cursos técnicos, etc.. Além disso, os estudantes se tornarão mais críticos em relação à leitura e à escrita, saberão analisar e captar erros que antes passavam despercebidos. Em princípio, divide-se em duas bases principais: produção textual e seus fundamentos; e gramática, que inclui morfologia, sintaxe e ortografia.

Podem-se destacar alguns preceitos que envolvem a produção de texto, como os “mandamentos da redação”, Os tipos textuais: Descrição, Narração e Dissertação e, dentro deles, os gêneros textuais, os textos verbais e não-verbais,figuras, funções e alguns vícios de linguagem,gerúndio e gerundismo, morfologia,classes gramaticais, concordância: nominal, verbal e ideológica; e regência: nominal e verbal, sintaxe,sintagmas, uso da crase, pontuação, dando ênfase ao emprego da vírgula entre e no interior das orações, acentuação gráfica e ortografia.

Todos os itens relacionados serão divididos em partes teóricas e práticas, para que haja uma relação entre o conhecimento e sua utilização dentro e fora da escola.

Hoje, encontramos alunos e professores em uma rotina de interpretações de textos sem um fim específico ou analisando frases soltas, também sem um objetivo extraclasse.

Como disse Bechara (2006, p.14):

“Hoje, por um exagero de interpretação de

‘liberdade’ e por um equívoco em supor que

uma língua ou uma modalidade é

‘imposta’ ao homem, chega-se ao abuso

inverso de repudiar qualquer outra língua

funcional, que não seja aquela

coloquial, de uso espontâneo na

comunicação cotidiana.”

Assim, não adianta dar vazão apenas à liberdade de interpretações e esquecer as regras básicas.

As propostas sugeridas ajudarão o professor a se orientar dentro de sala, não deixando suas aulas cansativas e proporcionando ao aluno maior entendimento textual, leitura e escrita mais dinâmicas, o aperfeiçoamento do vocabulário e desenvolvimento gramatical.

Serão trabalhados em sala de aula exercícios, teorias, textos dos mais variados tipos, debates em sala, participação nas aulas, provas e um retorno da evolução do aluno que o professor fará durante o ano inteiro, mostrando para o próprio indivíduo onde ele melhorou e onde tem de melhorar.

É comum encontrar, hoje, nos cursos superiores, além de Letras e afins, das diversas universidades e faculdades do país, disciplinas relacionadas ao ensino do português, um português instrumental, que tem por base pontos gramaticais específicos.

Tal medida é necessária, pois é lamentável ver médicos, engenheiros, professores, publicitários, contadores, escrevendo relatórios, e-mails, artigos, livros, bilhete, enfim, enunciados diversos, de maneira incorreta.

Isso é bem ilustrado por Ghiraldelo (2006, p. 07):

“A inclusão de disciplinas com tal teor no

currículo de diversos cursos deve-se,

basicamente, a dois motivos. Um deles é o

desempenho do aluno na língua materna,

que hoje ingressa na universidade, não ser

como os docentes desses cursos gostariam

– ou desejariam. A inclusão de tais

disciplinas é vista, muitas vezes, como

maneira de ‘corrigir’ as supostas falhas do

Ensino Médio e Fundamental. A outra

razão é a expectativa de que tais disciplinas

possam desenvolver no aluno habilidades

consideradas necessárias para o seu

desempenho durante a graduação e,

quando diplomado, o exercício

profissional. Essas disciplinas teriam,

então, a função de ‘reparar’ o

conhecimento do aluno e ao mesmo

tempo, o de prepará-lo para o futuro

profissional.”

Essa proposta para os cursos superiores contribui para o desenvolvimento intelectual e de compreensão em vários aspectos de uma determinada área. Em um curso de matemática, por exemplo, no início, muitos alunos reclamam das aulas de português, já que a disciplina não será seu ramo, mas, com o passar dos semestres, esses mesmos alunos terão uma compreensão melhor de como entender e desenvolver enunciados e teorias; de que adianta passar uma fórmula gigantesca se sua explicação é duvidosa, mal escrita ou dá margem a outras interpretações?

Um aspecto que limita o desenvolvimento das disciplinas de língua portuguesa é em relação ao tempo que deveria ser usado apenas como preparação, como lapidação do indivíduo, não como reparação e até mesmo, em muitos casos, como ensinamento de termos básicos que não competiria, inicialmente, ao professor de Ensino Superior.

Por isso, enfatiza-se, aqui, uma qualificação e aprimoramento no ensino da língua portuguesa ao longo do Ensino Médio, para transmitir ao aluno conceitos fundamentais e ajudar o professor de faculdade a utilizar seu tempo de aula com mais eficácia e especificidade do curso em que leciona.

O Ensino Médio deve ser visto pelo professor de português como tempo disponível para capacitar alunos na escrita e na fala, proporcionando-lhes o conhecimento de pontos gramaticais úteis e praticáveis, de fato, em toda sociedade e o ensinamento dos demais recursos da língua portuguesa, visando sempre aos temas de utilidade cotidiana do aluno ao terminar seu ciclo escolar, seja no trabalho, em um curso superior, em um curso técnico ou em qualquer situação que exija dele um conhecimento mais detalhado e formal da língua portuguesa.

Este conteúdo faz parte do meu TCC, no curso de Letras Licenciatura Plena, pela UNIFIG - Guarulhos. Logicamente, o trabalho não está em sua íntegra. Abaixo segue a bibliografia completa da minha pesquisa:

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Assis William
Enviado por Assis William em 05/12/2008
Reeditado em 11/12/2008
Código do texto: T1320747
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