PORTUGUÊS NA INTERNET, ORA POIS!
Sérgio Martins PANDOLFO*

"Língua minha dulcíssima e canora
em que mel com aroma se mistura"
José Albano, Rimas

 
      O presidente Lula em recente pronunciamento à Nação durante o encerramento da 2ª Cúpula América do Sul-África (28/09/2009) em Isla Margarita (Venezuela) afirmou que o Brasil ainda não se deu conta de que é uma grande nação. “De que saiu da condição de país receptor para um país doador”. Tem inteira razão o presidente e, similarmente, acrescentaríamos mais: O povo brasileiro desconhece a importância e o alcance do português que adotamos como língua nacional, hoje guindado à posição de uma pátria imensa do tamanho do Mundo. Por isso que se vale tão amiudada e afoitamente de estrangeirismos, máxime de anglicismos. E, o que é pior e mais deplorável ainda, sem sequer saber com exatidão o significado e/ou a propriedade das palavras e expressões de que se utiliza nessas línguas alienígenas.
  Desconhece que nosso idioma é um dos mais ricos, sonorosos e difundidos do mundo atual, sendo o quinto mais falado em números absolutos, o terceiro em números relativos e na banda ocidental deste “rotundo globo”, de que se utilizam cerca de trezentos milhões de viventes como primeira ou segunda forma de expressão, e reconhecido como uma das “línguas universais de cultura”, ao lado do inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e árabe. Daí a profusão, na Internet, de termos como: download, link, laptop, desktop, notebook, e-mail, site, webmail, data show, mouse, spam, banner e outros que tais, alguns, ou maioria deles, ignorados em sua exatidão pelos internautas.
    O governo de nosso País, de certa forma, é o responsável por esse estado de coisas, na medida em que não coíbe a entrada de aparelhos e equipamentos de informática neste “patropi” sem a devida – e necessária – adequação ao nosso idioma pátrio. Não se trata de xeno ou anglofobia. Nada contra o idioma de Shakespeare, mas é que, constitucionalmente, o português é o idioma oficial do País e isso deve ser acatado e respeitado! Se tanto lusofilia ou lusoconservação. Na França, quem quiser vender computadores (ou outros aparelhos de informática) pra lá tem que fornecê-los editados em francês, condição “sine qua non”. E na China? Os equipamentos de informática para uso dos chineses têm de adotar os enigmáticos ideogramas, se não... nada feito! Então, por que para nós só são enviados aparatos editorados em inglês, mesmo quando fabricados em Taiwan (China), Singapura, Malásia e até na Zona Franca de Manaus?
A maioria dos termos utilizados na linguagem internetiana pode ser, vantajosamente, substituída por expressões genuinamente portuguesas ou aportuguesadas, para felicidade geral da Nação e valoração do vernáculo camoniano. É bom exemplo o verbo deletar, um neologismo simpático que nos chegou do latim por meio do inglês (latim delere, que em português deu delir e em inglês delete. Neologismo por relatinização).   Similarmente ao ocorrido no futebol – os mais vividos lembram-se bem –, em que os lances, as infrações, as posições dos jogadores e até as marcações do campo eram designados em inglês (os britânicos se dizem “inventores” do popular esporte em que somos pentacampeões mundiais, em marcha para o hexa; mas há controvérsias) e hoje tudo isso foi devidamente remarcado para o bom e prestante português (só ainda não conseguimos acertar o plural de gol, que segundo as regras da gramática é gois, igual a sal/sais, sol/sóis, azul/azuis, anel/anéis... gol/gois, mas relutantemente persistem grafando “gols”, forma espúria, inexistente na língua; mas chegaremos lá!).
     Seria tão fácil! Bastaria com que o governo brasileiro designasse uma comissão superior de expertos (nada de experts, ó pá!) a fim de elaborar uma listagem com os designativos pátrios correspondentes dessa infernália de estrangeirismos que assola nossa cibernavegação, maioria deles impróprios ou inadequados ao nosso vernáculo. Até nos atrevemos a dar o pontapé inicial. Quem sabe surte efeito. Vejam-se algumas sugestões:
     Site (ingl.= local, lugar); proposição: sítio, página, espaço.
     E-mail (ingl. electronic mail = correio, correspondência eletrônico/a); proposição: endereço (ou correio) eletrônico. Cx. virtual.
      Link (ingl. = elo, ligação); proposição: atalho, acesso.
     Webmail (ingl. web = teia, tecido, rede; mail = correio, correspondência; proposição: correio virtual, correio cibernético.
     WWW (ingl. World Wide Web = rede de alcance mundial); proposição: esta.
      Download (ingl. down = embaixo, abaixo e load = carga, peso; baixar); proposição: levantamento (em oposição a baixar, como usado, posto que o que se quer é buscar, na trama internetiana algo lá arquivado), recolha.
     Laptop (ingl. lap = colo + top = em cima, sobre). Proposição: datamóvel (latim data = conjunto de dados, informações + móvel = portátil), em analogia com telemóvel, nosso popularíssimo celular.
     Desktop (ingl. desk = escrivaninha, mesa + top = em cima, sobre). Proposição: computador convencional (estático).
     Notebook (ingl. note = notas + book = livro). Proposição: datamóvel.
     Data show (latim data = dados, informações + ingl. show = mostrar, apresentar). Proposição: datavisão; datavisor (o aparelho).
     Mouse – o periférico mouse (Brasil) ou rato (Portugal/Europa) é assim chamado em função de sua semelhança com o roedor. Proposição: “rato”, manípulo.
     On-line (ingl. on = sobre, em + line = linha, fio); proposição: em linha, em rede, ligado, conectado.
     Spam [abreviatura em inglês de “spiced ham” (presunto condimentado) = mensagem eletrônica não-solicitada, indesejada, incomodativa, enviada em massa, quase sempre com fins publicitários e caráter apelativo]; proposição: “morcego” (são “voadores”, indesejados, inoportunos, temídos, lembram vampiros, como Drácula e dão raiva).
     Wireless (ingl. wire = fio condutor + less = sem, ausência); proposição: sem fio.
     Banner (ingl.= estandarte, bandeira, faixa); proposição: faixa.
     Real-time (ingl. real = verdadeiro + time = tempo). Proposição: em simultâneo.
     Tag (ingl. etiqueta de identificação, de preço); proposição: palavra-chave.
Como ocorrido com a Reforma Ortográfica, a adesão, sem ponta de dúvida, seria imediata e pacífica.
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(*) Médico e Escritor. ABRAMES/SOBRAMES
serpam@amazon.com.br - sergio.serpan@gmail.com -
www.sergiopandolfo.com

 
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 30/09/2009
Reeditado em 15/09/2012
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