PONTUAÇÃO GRAMATICAL
 
1. Emprego da vírgula
Não se usa vírgula na ordem direta pois ela é constituída de elementos sequenciais.
 
A. Segundo a gramática tradicional, a vírgula é obrigatória:
 
I. nas inversões de termos (oracionais ou não);
Ex.:Quando te vi, apaixonei-me.
 
II. nas intercalações de termos (oracionais ou não);
Ex.:O tempo, que tudo resolve, há de trazer‑nos muita paz.
 
III. nos acréscimos a juízos já formulados;
Ex.: “Esse homem é muito estranho”, diziam todos ali.
 
IV. nas enumerações;
Ex.:Coleciono livros, revistas, jornais, discos.
 
V. nos vocativos e expressões de situação em geral;
Ex.: Caros alunos, estudemos esses assuntos.
 
VI. nas omissões de termos (elipses);
Ex.:Dia de muito, (é) véspera de nada.
 
VII. nos termos que serão repetidos sob forma pleonástica;
Ex.:Nada, nada há de atrapalhar‑me.
 
VIII. antes da conjunção E:
Exemplos:
a) iniciando sequência de polissíndeto: Coleciono livros, e revistas, e jornais, e discos.

b) com sentido adversativo: Veio aqui o homem, e ninguém o percebeu.


c) ligando orações de sujeitos diferentes: Queria ler, e o sono atrapalhava.

 
B. Não se separam por vírgula:
a) predicado de sujeito em ordem direta:
Ex.: A aluna chegou deslumbrante à escola.
 
b) objeto direto ou indireto, de verbo, em ordem direta:
Ex.:Vendi uma apostila ao aluno novo.
 
c) adjunto adnominal, de nome:
Ex.: Os dois grandes amigos encontraram-se cedo.
 
d) complemento nominal, de nome:
Ex.: A descoberta da bússola motivou o Velho Mundo.
 
e) predicativo do objeto, do objeto:
Ex.: Considerei digna a sua declaração.
 
f) oração principal, da subordinada substantiva (desde que esta não seja apositiva nem apareça na ordem inversa)
Ex.: Espero que pontuação não te assuste mais.
 
Importante
A gramática moderna admite a vírgula facultativa sempre que, nessa hipótese, a leitura for de fácil entoação, de fácil compreensão, motivada por ênfase ou para evitar uma ambiguidade.
Ex.: O pesquisador trouxe o papagaio, da montanha. Sem a vírgula haveria uma ambigüidade.
 
2. Ponto‑e‑vírgula – usa-se:
Exemplos:

a)
para distinguir os elementos de um mesmo conjunto frasal:
Comprei duas entradas; ela, uma.

b) em enumeração por alínea:
Comprei três frutas: abacaxi para mim; laranja para minha irmã; e mamão a avó da Marta.
 
3. Dois‑pontos - emprega‑se antes de enumerações, citações ou orações que explicam o enunciado anterior e após verbo dicendi (verbo que indica ordem direta no texto).
Ex.: Compre três coisas: um lápis e duas canetas ou “(...) e ela me disse: eu te amo, meu príncipe.”
 
4. Travessão - usado para, nos diálogos, marcar a fala das personagens e, nas intercalações ou acréscimos a juízos já formulados, quando houver necessidade de ênfase.
Ex
.:“O menino exclamou: − Pai, me salva!”

 
5. Reticências
A. Indica dúvida ou hesitação.
Ex.: Sabe o que é... Eu... É que... Esquece.
 
B. Marca a interrupção de uma frase, deixado-a incompleta. Exemplos:
— Alô! Renata está?
— Ela não se encontra. Quem sabe se ligar mais tarde...
 
C. A fim de sugerir prolongamento de ideia.
Ex.: “Sua tez, alva e pura como um foco de algodão, tingia-se nas faces duns longes cor-de-rosa...
 
D. Indica supressão de palavra (s) numa frase.
Ex.: “Quando penso em você (...) menos a felicidade.”
 
6. Parênteses – usa-se: .
Exemplos
:

a) para isolar palavras e datas:
Na 1ª Grande Guerra (1914-1918), inúmeras foram as perdas humanas.
 
b) em intercalações de caráter explicativo
“Era uma vez (ou duas vezes) uma vaquinha magrinha, tadinha...”        
 
Obs.: Os parênteses também podem substituir a vírgula ou o travessão.
 
7. Ponto de exclamação
A. Após vocativo:
Ex.: Vem, amor!
 
B. Após imperativo:
Ex.: Cale-se!
 
C.  Após interjeição:
Ex.: Ufa! – Ai! – Tomara! – Oxalá!
 
D. Após palavras ou frases que denotem caráter emocional:
Ex.: Que desperdício!
 
8. Aspas
A. Marca o isolamento de palavras ou expressões distantes da norma culta, como gírias, estrangeirismos, palavrões, neologismos, arcaísmos e expressões populares.
Ex.:A festa na casa da Aninha estava show. Tocou muito flashback, tipo assim anos 70 e 80, que com certeza arrebentou!
 
B.  indicar uma citação textual:
Ex.: Segundo o eminente Rui Barbosa: A Política afina o espírito. 
 
Obs.: Se, dentro de um trecho já destacado por aspas, se fizer necessário a utilização de novas aspas, estas serão simples.
Ex.: “A Política ‘afina’ o espírito.
 
 
PONTUAÇÃO SEMÂNTICA
(Trecho extraído de Manual de Redação – Teoria e Prática – Redação Oficial, Dissertações e Textos Argumentativos, Ed. Ímpetus, 3ª ed., Nelson Maia Schocair)
 
Quando uma professora escreve um bilhete na caderneta escolar de seu aluno “Sr. Responsável, seu filho, nervoso, teve um comportamento diferente hoje e agrediu o colega da classe...” o que ela quis dizer com o termo grifado no início do segundo período? Por que usou vírgula? A resposta é semântica, e não gramatical.
Ao usar as vírgulas, procurou deixar claro para os responsáveis pelo aluno que ele, apesar de normalmente demonstrar comportamento condizente com o meio, naquele dia, especialmente, isso não ocorreu. Se não tivesse pontuado o texto, nada haveria de anormal com aquela atitude intempestiva, pois a ausência implicaria uma característica natural do menino.
 
Outro exemplo é a vírgula que desfaz uma ambiguidade. Quando se escreve: “O marido, a esposa agrediu” a vírgula é o elemento fundamental para se evitar um duplo sentido, uma anfibologia, por quê?
Porque se desrespeitou a ordem direta dos termos oracionais: “A esposa agrediu o marido”, como a ordem era inversa, se não se usasse a pontuação adequada, qualquer um dos dois poderia ser o agressor ou o agredido.
 
Terceiro grupo de exemplos:
I.        Os advogados que estudam com afinco para a Magistratura alcançam seu objetivo.
II.     Os advogados, que estudam com afinco para a Magistratura, alcançam seu objetivo.
Responda ao questionamento: essas frases, pontuadas de maneiras distintas, oferecem a mesma leitura interpretativa? A resposta é negativa, vamos analisá-las:
I.                     oração subordinada adjetiva restritiva com função de adjunto adnominal. Semanticamente, a mensagem indica que advogados estudiosos logram sucesso, mas os estudiosos, não;
II.                   oração subordinada adjetiva explicativa com função de predicativo. Semanticamente, a mensagem indica que todos os advogados estudiosos logram sucesso.Sobre os não estudiosos não se pode inferir juízo.
 
Leia um exemplo de falta de pontuação e suas implicações textuais:
Um homem rico estava muito mal. Pediu papel e pena. Escreveu assim:
“Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres”
Morreu antes de fazer a pontuação. Com quem ficou a fortuna do homem?
Eram quatro concorrentes.
 
O sobrinho fez a seguinte pontuação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não, a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres.
 
A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito:
Deixo meus bens à minha irmã, não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres.
 
O alfaiate pediu cópia do original. Puxou “a brasa pra sardinha” dele:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres.
 
Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate? Nada! Aos pobres.

Assim é a vida. Nós é que colocamos os pontos.

E isso faz a diferença.
(Texto recebido via e-mail. Se alguém conhece sua autoria, por favor, comunique-se para que receba o crédito devido)
Segundo indicação via e-mail, o texto está publicado em Comunicação e Expressão
dos Professores Amaro Ventura e Roberto Augusto Soares Leite