NÃO EXISTE A COMBINAÇÃO “SENDO QUE”

Recomendam os clássicos e os estudiosos do idioma que não se deve usar a combinação SENDO QUE, porquanto, além de inexistente na língua, é um péssimo recurso de expressão, devendo, por isso, ser evitado em todos os casos.

Ensina, a propósito do tema, o notável Prof. DOMINGOS PASCHOAL CEGALLA, com a autoridade acadêmica de sempre que:

“sendo que. Não é expressão recomendável para unir orações. Em alguns casos, convém dispensá-la por ser inútil; em outros, é preferível substituí-la por uma conjunção ou por um pronome relativo. Damos três exemplos, seguidos das respectivas correções: O pescador trouxe muitos peixes do rio, sendo que alguns deles ainda estavam vivos. O pescador trouxe muitos peixes do rio, alguns deles ainda vivos. / O rio invadiu parte da cidade, sendo que a violência das águas arrastou mais de uma casa. O rio invadiu parte da cidade e a violência das águas arrastou mais de uma casa. / Ele escreveu mais de uma dezena de romances, sendo que três deles já foram traduzidos em vários idiomas. Ele escreveu mais de uma dezena de romances, três dos quais já traduzidos em vários idiomas.” (Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, Editora Nova Fronteira, 2ª ed., 1999, p. 370).

OBSERVAÇÃO: Em razão das lúcidas e muito bem lançadas ponderações feitas pelo ilustre leitor Américo Paz, elucido que não é só o renomado DOMINGOS PASCHOAL CEGALLA que faz séria critica o uso da combinação “sendo que”. O não menos festejado gramático LUIZ ANTÔNIO SACCONI assim também o faz. Veja-se:

“Sendo “que”

Não existe esta combinação em nossa língua, mas ela aparece muito na mídia: Apenas 2 dos 348 estudantes que responderam aos questionários disseram conhecer a tricuríase, “sendo que” ambos demonstraram ter conhecimentos incorretos.

Nesta frase, “sendo que” poderia ser substituída por mas, porém, todavia, etc.

Recentemente, ouvimos um metalúrgico reclamando: Recebi cinco mil reais, “sendo que” boa parte foi retida pelo imposto de renda. Caberia nessa frase a mesma substituição da primeira.

Não faz muito tempo, lemos a orientação de um advogado: Quando o casal já está separado de fato judicialmente, o divórcio pode ser requerido após um ano da decretação da separação. Não havendo ainda a separação judicial, apenas a separação física, o divórcio pode ser efetivado, “sendo que” há a necessidade do casal estar separado de fato há mãos de dois anos, o que deverá ser provado por testemunhas.

Também aqui cabe qualquer conjunção adversativa.

Num jornal: a maioria ganha mais de dez salários mínimos mensalmente, “sendo que” 32% recebem entre dez e vinte salários.

Basta usar mas.

Em outro jornal: O saldo devedor financeiro das operações será transferido e cedido ao governo do Estado, “sendo que” incidirão juros a de 3% ao ano.

Custaria usar mas?

Finalmente, dados do Sebrae: A participação das “micro” e pequenas empresas no total das empresas em 1994 foi de 96,04%, “sendo que” no comércio foi de 96,76%, nos serviços 97,26% e na indústria 91,86%.

Tudo, como se vê, pode ser perfeitamente substituído por um mas, um porém, um todavia, palavras tão singelas!

Há casos em que a substituição se faz por palavra ainda menor: e. Veja: Ele já escreveu muitos livros, “sendo que” muitos deles já foram traduzidos para vários idiomas.

Não querendo usar o e: Ele já escreveu muitos livros, sendo muitos deles já traduzidos para vários idiomas. (Não Erre Mais!, Editora Harbra, 28ª ed., 2005, p. 91/92).”

David Fares
Enviado por David Fares em 12/11/2010
Reeditado em 19/12/2010
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