NÃO AO PEDANTISMO E SIM À SIMPLICIDADE E À COERÊNCIA.

Falemos da famigerada frase “ Hoje são 31”. Ou qualquer outro dia que não seja o primeiro do mês.

Trata-se aqui da concordância de um elemento singular e o verbo no plural.

Diz a boa gramática na parte da concordância verbal: “ o sujeito sendo simples, com ele concordará o verbo em número e pessoa”.

Analisando a frase em questão: temos o sujeito simples “hoje” , o verbo ser no presente do indicativo plural e o numeral. Pois bem, vê-se claramente que a frase contraria a regra. A pergunta que se impõe é simples: de onde se origina a frase? E outra: por que ela é aceita de maneira tão natural, se foge inteiramente à coerência?

A explicação remonta a séculos, do XIX para trás. Aqueles gramáticos bolorentos e pedantes de então, com intuito de ganhar ares de sabichões, impuseram o seguinte raciocínio: o verbo vai para o plural concordando com o numeral a fim de exprimir a ideia de sequência.

Já os gramáticos do século XX, não tão bolorentos assim, passaram a aceitar a forma mais simples “hoje é 31”, justificando que está implícita a palavra dia. Então seria como se dissesse: “hoje é dia 31”. Entretanto, esses gramáticos continuaram aceitando a invenção antiga, aquela dos pedantes, talvez por medo de desafiar a intocável tradição.

Note-se que mesmo a justificativa dada pelos gramáticos mais atuais não condiz com a coerência e a simplicidade que se impõe, pois não é necessário dizer que a palavra dia está implícita. Ao se dizer a palavra hoje já está claro que se trata de um dia, porque hoje não pode ser outra coisa que não um dia. Logo, dizer que hoje é um dia é o mesmo que dizer que um ovo é oval ou que se vai descer para baixo, subir para cima, sair para fora e outros pleonasmos absurdos.

Resumindo: ao nos referirmos a hoje está evidente que estamos falando de um único dia, não importando se já se tiverem passado 30 dias antes dele. Este fato não deixa dúvida de que a forma correta é “hoje é 31”.

Só para arrematar a coisa, observemos o seguinte: ouve-se por aí, a torto e a direito, todo mundo falando compenetrado “hoje são 31”, mas nunca se viu ninguém dizer “ontem foram 30”. Sempre se diz: “ontem foi 30”. Perceberam a incoerência? Ora, se é dito que “hoje são 31”, dever-se-ia dizer também: “ontem foram 30”, mas ninguém o faz.

Diante do exposto, salvo juízo mais atilado, impõe-se que se abandone de uma vez por todas essa frase ridícula e pedante: “hoje são 31”. Xô gramatiquice. Não ao pedantismo e sim à simplicidade e à coerência.

Mark Scoat
Enviado por Mark Scoat em 18/02/2011
Reeditado em 08/03/2011
Código do texto: T2800681
Classificação de conteúdo: seguro