PONTUAÇÃO - SUA LÓGICA SINTÁTICA

QUAL A LÓGICA DA PONTUAÇÃO? A LÓGICA SINTÁTICA DA PONTUAÇÃO

A dúvida da atriz Bárbara Bruno – dificuldade com a pontuação e as vírgulas - é democrática: milhões de brasileiros compartilham dessa mesma agrura.

O problema (ou a solução) da pontuação é meramente sintática. Quando fazemos a escolha das palavras e expressões que comporão a rede do texto, precisamos lançar mão de uma lógica de pontuação, para que cada oração, ou elemento a destacar, diga realmente o que tem a dizer. Um erro de pontuação pode pôr tudo a perder.

Portanto, para pontuar corretamente, é preciso reconhecer a estrutura sintática do texto. Se você sabe qual é o sujeito, o objeto direto, o objeto indireto, o agente da passiva e tantas outras funções sintáticas numa oração, não cometerá erros de pontuação, como, por exemplo, separar com a vírgula o sujeito do seu verbo; o objeto direto do verbo que ele completa, etc. Como se vê, pontuação é realmente uma lógica e até uma logística sintática. Não se jogam no texto aleatoriamente vírgulas pra lá, vírgulas pra cá, ponto-e-vírgula, etc.

Quando se fala em pontuação, creio que 90% das dificuldades se concentram no uso da vírgula. Grosso modo, podemos dizer que há um uso sintático e um uso de estilo individual da vírgula. Este seria mais uma espécie de tentativa de embelezamento do texto ou de enfoques pessoais, destacando-se, por exemplo, elementos enfáticos ou que dêem maior elegância ao enunciado. Já o uso sintático, em princípio, marca elementos do texto que atuam no campo semântico e tende, portanto, a garantir que esses elementos sejam portadores da mensagem que o enunciador pretendeu evidenciar. Vamos a alguns exemplos de um e de outro uso.

Uso estilístico:

Talvez, eu tenha esclarecido a dúvida da atriz.

Hoje, escreverei sobre outro assunto!

Separar pela vírgula esses advérbios TALVEZ e HOJE é uma questão de estilo individual e não obrigatória. As orações ficariam tão perfeitas com ou sem essa vírgula.

Uso sintático:

Repare na diferença do uso com ou sem a vírgula: “O candidato falou naturalmente” – e – “O candidato falou, naturalmente”. Veja como o emprego da vírgula faz com que as mensagens sejam diferentes. No primeiro caso exprime-se que o candidato falou com naturalidade; no segundo, ao se colocar a vírgula, passa-se a mensagem afirmativa de que é óbvio que o candidato falou. É tão forte a diferença de mensagem que, no primeiro caso, naturalmente é advérbio de modo; no segundo, advérbio de afirmação. Não usar a vírgula aqui corresponde a deixar de transmitir o que se quer.

Fora esse problema, há casos obrigatórios e corriqueiros do uso da vírgula, como separar o local da data (São Paulo, 12 de junho...), o vocativo (José, traga-me um copo d’água!), etc., mas esses são de emprego prático e tradicional.

Prof. Leo Ricino

Junho de 2006

Artigo publicado na Revista Língua Portuguesa nº 9, Ano I, em 2006, na coluna CELEBRIDADES.

Leo Ricino
Enviado por Leo Ricino em 16/06/2011
Código do texto: T3038229