ENCONTROS E DESENCONTROS DO PORTUGUÊS DE LÁ E DE CÁ

Sérgio Martins Pandolfo*

      É sempre interessante salientar algumas diferenças de pronúncia entre o português do Brasil e o de Portugal, sem que isso nos cause atrapalhos.
Conquanto no falar daqui a palavra porque (prep. por + conj. que) seja sempre pronunciada como oxítona (porquê), em Portugal, ao revés, é ela todas as vezes entonada, a nosso juízo acertadamente, como paroxítona (pôrque - a melhor dizer, com aquele típico sotaque lusitano: púrqui), em razão de ser um dissílabo terminado em e sem acento circunflexo final. Já em porquê (substantivo masculino) e por quê (us. no final de frase), a sílaba tônica é sempre a do fim, i.é, oxítona.
      Numa das viagens que empreendemos à terra de nossos avoengos tomamos um taxi e demos o endereço a chegar. Incontinênti o condutor do mesmo nos perguntou: - O senhor é brasileiro, pois não? Respondemos-lhe que sim e perguntamos: por quê? - Pelo sotaque, ora pois; os senhores não pronunciam corretamente nem o nome do vosso país, obtemperou o motorista. Como assim, indagamos? - Os senhores não dizem Brasil, e sim Brasiu. - É verdade, retrucamos, mas até nisso somos iguais... ou parecidos, eis que vocês também não dizem Portugal, mas Purtugal, além de ilétrico, cumboio, puisia, certamente em razão de que as crianças aqui não vão ao colégio, mas ao culégio. Nessa altura o chofer, com um sorriso maroto, teve de reconhecer: - É verdade, disse ele, o senhor tem toda a razão. E nada mais foi dito nem perguntado. Chegamos ao destino, saltamos e nos despedimos: Tenha boa estadia pur cá! – bradou o motorista. Obrigado. Nossa estada por aqui será breve, replicamos.
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*Médico e escritor. SOBRAMES/ABRAMES
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Site: www.sergiopandolfo.com
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 01/07/2011
Reeditado em 02/06/2012
Código do texto: T3069836
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