“TER POR” HÁBITO OU “TER COMO” HÁBITO?

“TER POR” e “TER COMO”, segundo se depreende dos clássicos, são construções equivalentes e autorizadas. Pode-se, pois, dizer: Sempre a “tive por” mulher honesta ou Sempre a “tive como” mulher honesta.

ROCHA LIMA, entretanto, acha que é solecismo de regência dar à palavra “como” função prepositiva (Anotações a Textos Errados, p. 157).

ARTUR DE ALMEIDA TORRES (Manual de Língua Portuguesa, I, p. 171), esposa quase a mesma ideia do gramático Rocha Lima.

LAUDELINO FREIRE (Seleta, p. 12) defende o mesmo ensinamento dos citados mestres.

OTELO DE SOUSA REIS (Análise Léxica, p. 45), por sua vez, dá à palavra “como” função prepositiva: “Sempre foi tido como rico.” “Passava como filho do embaixador.”

MACHADO DE ASSIS, que preferiu usar “por” em muitos passos de suas obras, serviu-se também de “como” neste lanço: “Tenho aqui como alvo esboçar em traços ligeiros as formas mais proeminentes da individualidade.” (Crônicas, 1, p. 16).

Uma coisa é certa: “TER POR” ou “TER COMO”, segundo os clássicos, vai depender tão somente da eufonia. No primeiro exemplo de LAUDELINO FREIRE, “por” daria um som desagradável: “Sempre foi tido por rico.”

Doutrina mais sensata, mais de acordo com os fatos, é esta: “Ter por” — significa “julgar”, “reputar”, “considerar”. Neste caso, indiferente é o emprego de “como”: “Ele é tido por homem de bem ou como homem de bem.” (A. RÉVEILLEAU, Antologia, II, 104).

Preferimos, em modesto entendimento, construir uma sentença assim: "Se houvesse um homem que assim falasse na conversão, não o havíeis de ter por néscio? (VIEIRA, Sermões, I, 19).

É ou não cercada de mistérios nossa adorável e insubstituível Língua Portuguesa?

David Fares
Enviado por David Fares em 05/12/2011
Código do texto: T3373826
Classificação de conteúdo: seguro