“ACORDO” CEDO OU “ACORDO-ME” CEDO?

Segundo a norma culta, o verbo ACORDAR não é reflexivo. Assim, na visão dos estudiosos do idioma, seria incorreto dizer e escrever “acordo-me” cedo.

Dizem os estudiosos do idioma que, se esse incorreto uso ocorre com frequência, é devido à confusão que se faz com os verbos LEVANTAR-SE, DESPERTAR-SE; estes, sim, reflexivos.

Nada obstante, há vozes autorizadas sustentando o contrário, ou seja, que a forma “acordo-me” seria autorizada entre nós. Nesse sentido, leciona o grande filólogo CELSO PEDRO LUFT:

“Acordar-se, por acordar, constitui brasileirismo; decerto surgiu por analogia com despertar-se, levantar-se. É um modo de enfatizar o sujeito: “Macunaíma se acordava dando grandes gargalhadas” (Mário de Andrade: Barbadinho). “A terra acordou-se com o alarido de caça.” (Raul Bopp: id.). Mais exs. de Jorge de Lima, Tasso da Silveira, Clarice Lispector, Ribeiro Couto, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Guimarães Rosa e Adalgisa Nery em Barbadinho, 1977:41). (Dicionário Prático de Regência Verbal, Editora Ática, 8ª ed., 2002, p. 32).

Nossos mais completos e renomados dicionários — AURÉLIO e HOUAISS —, simplesmente consignam como legítima a forma “acordo-me”, trazendo exemplos de conhecidos escritores, inclusive.

Exemplos colhidos da última e atualizada edição do Dicionário AURÉLIO:

“Engole-Cobra acordou-se aos gritos.” (Mário Brandão, Almas do Outro Mundo, p. 35).

“Acordei-me com o barulho das pancadas enormes na minha porta.” (Luís Jardim, Maria Perigosa, p. 61).

“acordava-se com os passarinhos e, antes do Sol nascer, já andava no campo cortando mandacaru para o gado.” (Adalberon Cavalcanti Lins, Curral Novo, p. 42).

Exemplo colhido da última e atualizada edição do Dicionário HOUAISS: “acordei(-me) cedo”

Pensamos, humildemente, ser até mais lógica e gramatical a forma “Acordo-me cedo”.

Entretanto, melhor dirão nossos estimados correcantistas e leitores.

É ou não curiosa e apaixonante nossa inigualável Língua Portuguesa?