COM ELIPSE OU SEM ELIPSE [OUTRO ENFOQUE GRAMATICAL]

Depois de refletirmos atentamente sobre alguns textos acerca do concomitante emprego das preposições COM e SEM referindo-se a um só termo, todos de autoria do nosso amigo AMÉRICO PAZ, ilustre recantista, resolvemos, como simples estudioso da Língua Portuguesa, expressar nosso humilde entendimento acerca do assunto, ou seja, de que se deve, a bem da pureza do idioma, evitar a coordenação das referidas preposições e repetir o termo subordinado, o que fazemos com espeque em quatro posicionamentos de peso.

Sentencia o grande e imortalizado LAUDELINO FREIRE:

“É solecismo construir a frase, referindo a um só termo as preposições com e sem.

Exprimindo estas preposições sentido contrário, não se pode dizer, por absurdo que é, que alguém ‘ande com ou sem alamares’, ‘trabalhe com ou sem ardor’, ‘ande com ou sem pressa’, etc.

O correto é dizer, como indicam estes exemplos: ‘Com fundamento ou sem ele achei essa filiação’ (Castilho) — ‘Com vontade ou sem ela embarcou ele em Lisboa’ (J. F. Lisboa). (Regras Práticas para Bem Escrever, Editora Lótus do Saber, 10ª ed., 2000, p. 91).

Na mesma esteira caminha o festejado gramático ROCHA LIMA:

“’Com recursos ou sem eles’ é a melhor construção gramatical com que se evita a menos boa: ‘Com ou sem recursos’.” (Gramática Normativa, José Olympio Editora, 42ª ed., 2002, p. 366).

Para o filólogo CELSO PEDRO LUFT:

“com e sem, com ou sem — ‘Com chapéu ou sem ele’, ‘com licença e sem ela’; ou ‘com chapéu ou sem chapéu’, ‘com licença e sem licença’, em variação enfática — são as construções rigorosas, as únicas admitidas por puristas.” (ABC da Língua Culta, Editora Globo, 2010, p. 89).

Diz o filólogo VITTÓRIO BERGO:

“COM ELA OU SEM ELA — Os escritores meticulosos costumam evitar coordenação de preposições como ‘com’ e ‘sem’, pelo que preferem repetir o termo subordinado: ‘— Veremos. Mãe é capaz de tudo; mas, ‘com ela’ ou ‘sem ela’, tenho por certo nossa ida, e não haverá esforço que eu não empregue, deixe estar’.” (MA, Casmurro, 202). (Erros e Dúvidas de Linguagem, Livraria Francisco Alves Editora, 7ª ed., 1988, p. 96).

Embora existam, de fato, algumas divergências entre os estudiosos do idioma, o posicionamento adotado pelos citados gramáticos é, a nosso sentir, bem elegante e convincente. Entretanto, jamais nos esqueceremos de que “As razões da divergência são mais úteis do que as da concordância, porque suscitam reflexão e o reexame de nossas opiniões.” – B. Calheiros Bomfim.

A Língua Portuguesa — sempre o sustentamos — tem lá seus mistérios e caprichos...

É ou não curiosa e apaixonante nossa inigualável Língua Portuguesa?

David Fares
Enviado por David Fares em 14/03/2012
Reeditado em 14/03/2012
Código do texto: T3553022
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