Dúvidas de Português – 1ª Fase

Prólogo

Noutra ocasião escrevi e publiquei aqui, no Recanto das Letras, um texto sob o tema “Advérbio versus Preposição – Ensinando com amor”. O supracitado escrito, atualmente, está em 8º lugar dentre os mais lidos. Esse texto causou certo bulício entre os meus inúmeros leitores porque mostrou deficiências e fragilidades, falta de incentivo e desídia (acomodação) no aprendizado da língua pátria.

Revendo meus alfarrábios, descobri uma preciosidade e não me escusei em urdir algo na mesma linha de ensinamento. Claro que há dezenas de centenas ou milhares de trabalhos na internet com os mesmos propósitos. Tampouco podemos olvidar as inúmeras boas gramáticas existentes à venda, cujos autores, todos renomados, são especialistas nas dúvidas dos autodidatas (Eu sou um deles), estudantes, curiosos, professores, graduados, pós-graduados, mestres, doutores e assemelhados.

Atualmente e mais do que nunca a pesquisa e o acesso à informação - que é gerada com enorme rapidez (computadores e internet) pode ser feitas em tempo real. Não evolui quem não quer ou talvez porque seja mais fácil vegetar nas vielas escuras da insipiência danosa e improficiente.

Auxiliemos a transformação social. Transformemos a face do mundo, pelo caminho do amor, do respeito, da educação. Façamos como nos ensina Joanna de Angelis quando disse:

“O AMOR é substancia criadora e mantenedora do Universo, constituído por essência divina. É um tesouro que, quanto mais se divide, mais se multiplica, e se enriquece à medida que se reparte. Mais se agiganta, na razão que mais se doa. Fixa-se com mais poder, quanto mais se irradia...”. (Joanna de Angelis – Espírito).

Desejamos e queremos evoluir. Foi pensando nos meus milhares de leitores que escrevi, com a ajuda e necessária vênia dos autores nas notas referenciadas, DÚVIDAS DE PORTUGUÊS.

COMO SURGEM AS DÚVIDAS?

Uma língua é um instrumento a serviço da comunicação de seus usuários. Dependendo do grau de instrução que se tenha ou da atenção e cuidado com que se fale, pode-se usar a língua correta ou incorretamente. Quando é usada corretamente, estimula a prática de bons hábitos que consagram a norma culta como a norma comum a todos. Quando usada de maneira incorreta, dá origem a desvios e erros, os chamados vícios de linguagem que, a longo prazo, desfiguram o idioma e provocam uma série de dúvidas.

Em alguns casos esses vícios são adotados e repetidos por figuras públicas e profissionais que trabalham com a língua (idioma): jornalistas, apresentadores de rádio e televisão, políticos, atores e assemelhados (nas novelas), o que contribui para difundir os erros e até mesmo incorporá-los à linguagem cotidiana.

Ora, de tanto ouvir e ver palavras pronunciadas ou escritas de forma incorreta uma criança haverá de pronunciar e escrever, também, errado. Exemplo: Perto de minha casa há uma pequena fábrica de janelas e esquadrias em ferro e alumínio. Uma gigantesca placa, com letras garrafais, isto é, grandes e bem legíveis, anuncia os produtos ali confeccionados: “Fabricamos portas, portões e vasculhantes”.

A última palavra “vasculhantes” contém dois erros! O correto é escrever “basculantes”. Crianças, adolescentes e descuidados nem sempre percebem esse tipo de erro na grafia de uma palavra, mas o subconsciente grava a fogo tal erro crasso.

USO DO PRONOME SE

O pronome “se” tem, entre outras, as funções (vou elencar apenas três funções): Pronome apassivador, índice de indeterminação do sujeito e forma impessoal do verbo haver:

* Pronome apassivador – Liga-se a verbos transitivos diretos e indica que o sujeito é paciente. O verbo deve concordar normalmente com o sujeito: Exemplos: Discutiu-se a questão (A questão foi discutida) e Discutiram-se as questões (As questões foram discutidas).

A concordância verbal em orações que usam o pronome “se” apassivador em geral provoca dúvidas. É frequente vermos anúncios ou cartazes com a concordância verbal incorreta: Exemplos: “Vende-se casas”, “Conserta-se sapatos”. O correto é: Vendem-se casas e Consertam-se sapatos.

* Na função de índice de indeterminação do sujeito o “se” liga-se a verbos intransitivos indiretos, indicando que o sujeito é indeterminado. Nesses casos o verbo fica sempre na 3ª pessoa do singular: Exemplos: “Precisa-se de advogados”, “Não se confia nos resultados”, “Trata-se de segredos invioláveis”.

* Uso da forma impessoal do verbo haver – O verbo haver é impessoal quando significa existir, acontecer ou quando indica tempo passado. Nessa forma o verbo NÃO admite sujeito, só objeto direto. Portanto, não pode ser feita a concordância de número e pessoa entre o verbo e o sujeito, como acontece no exemplo errado: “Haviam muitos estagiários no julgamento do “mensalão””. O uso correto desse verbo exige sempre a 3ª pessoa do singular: “Havia muitos estagiários no julgamento do “mensalão””.

É claro que a concordância é a mesma quando se trata de uma locução verbal. Exemplos: “Deve haver soluções mais práticas para o caso dos grevistas” (Certo) e “Devem haver soluções mais práticas para o caso dos grevistas” (Errado).

REGÊNCIA VERBAL

São também frequentes as dúvidas sobre a regência verbal de alguns verbos. É comum as pessoas se perguntarem se tais verbos exigem ou não preposição ou se os seus complementos são objetos diretos ou indiretos. Vamos aprender a identificar esses enganos com exemplos errados e certos: “Aspiro um emprego melhor” e “Quero conviar-lhe para a minha formatura”. O certo é escrever ou falar: “Aspiro a um emprego melhor” e “Quero convidá-lo para a minha formatura.”.

Ora, o verbo aspirar, no sentido de desejar, é transitivo indireto; exige a preposição “a”. E o verbo convidar é transitivo direto; portanto, seu complemento é um objeto direto (o).

* Entre os diversos verbos cujas regências causam dúvidas, destacam-se:

VERBOS TRANSITIVOS INDIRETOS

- Aspirar a um mundo melhor.

- Assistir ao espetáculo.

- Obedecer ao regulamento.

- Visar ao bem comum.

VERBOS TRANSITIVOS DIRETOS

- Abraçar alguém -------------------- abraçá-lo

- Aspirar o ar ------------------------ aspirá-lo

- Cumprimentar alguém -------------- cumprimentá-lo

- Prejudicar alguém ------------------ prejudicá-lo

- Visar o cheque -------------------- visá-lo

Atenção: embora nos exemplos (errados) abaixo as regências não sejam recomendadas pela norma culta, foram consagradas e são aceitas pelo uso:

Assistir o filme (Errado) -------------- Assistir ao filme (Correto).

Implicar em gastos (Errado) ---------- Implicar gastos (Correto).

CONCLUSÃO

Desejo encerrar esta fase enumerando algumas dúvidas de grafia ou de pronúncia. Muitas palavras também têm sua grafia ou pronúncia frequentemente alterada, como as dos exemplos que se seguem:

Adivinhar (Correto) ---------------- Advinhar (Errado)

Bandeja (Correto) ---------------- Bandeija (Errado)

Beneficente (Correto) ---------------- Beneficiente (Errado)

Cabeçalho (Correto) ---------------- Cabeçário (Errado)

Caranguejo (Correto) ---------------- Carangueijo (Errado)

Companhia (Correto) ---------------- Compania (Errado)

Disenteria (Correto) ---------------- Desinteria (Errado)

Empecilho (Correto) ---------------- Impecilho (Errado)

Estupro (Correto) ---------------- Estrupo (Errado)

Frustração (Correto) ---------------- Frustação (Errado)

Incrustar (Correto) ---------------- Incrustrar (Errado)

Lagarto (Correto) ---------------- Largato (Errado)

Mendigo (Correto) ---------------- Mendingo (Errado)

Meritíssimo (Correto) ---------------- Meretíssimo (Errado)

Prazeroso (Correto) ----------------- Prazeiroso (Errado)

Próprio (Correto) ----------------- Própio (Errado)

Reivindicar (Correto) ----------------- Reinvindicar (Errado)

Salsicha (Correto) ----------------- Salchicha (Errado)

RESUMO DA CONCLUSÃO

Ensinar e aprender não são tarefas fáceis. Digo isso por ser um eterno aprendiz e por tentar, de modo intimorato e recalcitrante, sem pejo do ridículo, ensinar o que pouco sei.

"Eu não me envergonho de corrigir meus erros e mudar as opiniões, porque não me envergonho de raciocinar e aprender.". – (Alexandre Herculano).

"O verdadeiro significado das coisas é encontrado ao se dizer as mesmas coisas com outras palavras.". – (Charles Chaplin).

“A coisa mais difícil do mundo é dizer pensando o que os outros dizem sem pensar.”. – (Alain).

Observação: Para não me tornar cansativo e enfadonho vou interromper estes ensinamentos prometendo voltar, mais cedo do que se imagina, com mais uma ou, no máximo, duas fases.

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NOTAS REFERENCIADAS

– Help – Sistema de Consulta Interativa;

– Novíssima Gramática da Língua Portuguesa - Domingos Paschoal Cegalla;

– Papéis avulsos, rabiscos, fragmentos e outros textos do Autor.