Aos brasilianists as brazucas
                         Sérgio Martins Pandolfo*
  
   Até o meado do século XX pontificava  a figura dos brazilianists, pesquisadores quase exclusivamente norte-americanos instalados no Brasil, regiamente financiados pelo Tio Sam e gradualmente mais bem preparados em relação aos pesquisadores tupiniquins, com facilitado acesso a documerntos e dados de arquivos, que se arvoravam a palpitar sobre negócios, coisas e gentes do País.  Com perdão da má sentença, conceberam “misérias” em relação ao cândido “patropi”. Pensávamos já estar livres desses alienígenas, mas, tudo indica, continuam a “dar teco” nas coisas que só a nós deveriam interessar, como é o caso agora, só para pôr exemplo, da escolha do nome oficial da bola que vai rolar nos gramados da Copa a ser disputada no Rio de Janeiro.

     Consoante anúncio triunfal do ex-jogador Cafu, que conquistou dois títulos mundiais pela seleção “canarinho”, seria, pasmem, “Brazuca”, o nome da pelota que vai merecer os passes dos craques envolvidos na Copa do Mundo de 2014, o qual já teria sido definido por meio de “enquete que contabilizou mais de um milhão de votos” (somos 193 milhões!). A opção “Brazuca” teria recebido mais de 70% dos votos, segundo Cafu, de acordo com o anúncio “oficial” durante um programa da TV Globo, e teria suplantado as outras duas opções: “Bossa Nova” e “Carnavalesca”. De nossa parte, leitor voraz dos jornais, queremos deixar claro não termos sido informado, muito menos consultado, de tal “enquete”. O nome da bola já está conhecido, mas não seu design, bem como a data do lançamento, completou o craque bicampeão.
     De acordo com o comunicado oficial divulgado pela FIFA, “brazuca é um termo informal, utilizado pelos brasileiros para descrever o orgulho nacional pelo estilo de vida do País. Simboliza emoção, orgulho e boa vontade com todos, de forma semelhante à abordagem local ao futebol”. Orgulho, senhores “fifanos”? Orgulho de termos sido esbulhados quanto à grafia da “nossa” bola? Os brasileiros podem até utilizar informalmente esse termo, não a espúria grafação. Que falta está a fazer o ex-presidente Jânio Quadros, que era filólogo e lexicólogo. Mandaria logo um bilhetinho para os “fifanos” e seus acólitos daqui. Isso é um inaceitável desprimor pela lusa língua que temos como oficial e única. Em Portugal o termo, algo pejorativo, é aplicado aos brasileiros em contraposição ao portuga que damos aos de lá. Gostaríamos de saber qual a justificativa deste z, se Brasil se escreve com s e desde pequeno se aprende que s entre vogais tem som de z. E não se venha com a escusa furada de que Brasil, para “uso externo”, se grafa com z. A jabulani, bola da Copa da África do Sul, tomou esse nome de uma das línguas nativas oficiais do País, o zulu, malgrado o inglês, também oficial por lá ser, seguramente, a mais falada delas.
    Senhores “fifanos” e “coianos” (do COI - Comitê Olímpico Internacional) a “presidenta” já achincalhou por demais a “última flor do Lácio”. Onde estão os “guardiões da Lei” que nada fazem contra mais esse escárnio à nossa Carta Magna, que em seu art.13 diz ser a língua portuguesa o idioma oficial da nação brasileira? Isso é um desserviço ao País e à Língua Portuguesa. Senhores organizadores da Copa Mundial 2014, vamos valorizar este que é um dos mais belos, ricos e bem estruturados idiomas em curso em nosso rotundo globo terreal! Ainda é tempo de corrigir o que não está de todo oficializado. Brasuca ainda vá lá, com s de soberania, como grafado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, que tem força de Lei.
    Brazuca cala tão mal quanto o nefando e desarmônico “paralimpíada”, que não sabemos de que cachimônia malrecheada saiu, já que o termo abonado pelos dois dicionários-mores da língua é paraolimpíada, como também constante do VOLP e, portanto, oficial.
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
serpan@amazonet.com.br – sergio.serpan@gmail.com www.sergiopandolfo.com

 
 
 
 
 
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 21/09/2012
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