1- Alguns recantistas, lendo o texto sobre a confusão semântica causada por uma construção sintática ambígua de minha namorada, me enviaram pedidos cobrando o final da história.
Um e-mail ressaltou que não engoliu esse papo de interrupção ocasionada por um suposto mau contato do meu teclado.
Essa pessoa achou que eu fui desrespeitoso e zombei da boa vontade dos leitores.
 
Peço desculpas pelas frustrações que involuntariamente provoquei e prometo nunca mais agir de uma maneira que alguns consideraram moleque!
 
2- Quem não leu o texto que provocou várias reações de insatisfação, pode conferir clicando no link fornecido.

http://www.recantodasletras.com.br/gramatica/3915428
 
Vou realizar um brevíssimo resumo.
Paulo e Tadeu, dois grandes amigos meus saíram para curtir a noite conforme sempre fazem, porém um dos dois estava abatido segundo o recado de Júlia, minha namorada e irmã de Paulo, que dizia Paulo apareceu com Tadeu abatido.
 
A ambiguidade do recado complicou tudo, pois Tadeu tivera uma conversa decisiva com sua namorada chata e Paulo estava solicitando a uma terceira pessoa o pagamento de um débito objetivando me pagar uma grana (o prazo combinado comigo havia se esgotado) que eu necessitava com urgência, ou seja, qualquer um dos dois poderia estar abatido.
A frase destacada não esclarecia exatamente quem era o deprimido.
Recebi tal recado no final da noite e, depois dele, fiquei impossibilitado de solucionar a dúvida, pois Júlia, a autora do recado, que tinha saído com o primo para comemorar o aniversário do marmanjo, não levara o celular e afirmou não ter hora para voltar.
Paulo tinha esquecido o celular em casa.
Já o celular de Tadeu só dava caixa.
Em função disso, terminei ficando acordado durante a madruga pensando nas possibilidades, imaginando quem estaria abatido.
Se o desanimado fosse Paulo, ele não pagaria a grana a qual me devia, impossibilitando que eu honrasse um compromisso financeiro envolvendo o meu cartão de crédito.
Além disso, comecei a ficar enciumado acreditando que Júlia estava muito dedicada ao primo.
Os dois dançando, sem hora para acabar a diversão; eu sem dormir querendo saber se Paulo tinha ou não o dinheiro o qual me devia.
 
3- Terminei o texto quando, seis da manhã, fui até a casa de Paulo conhecer o desfecho dessa confusão que a frase de Júlia provocou.
Digitando as últimas informações dessa história baseada em fatos reais, constatei um problema de mau contato no teclado.
Avisei aos leitores, procurando ser o mais sucinto possível, porém o teclado acabou pifando definitivamente.
Fui obrigado, então, a enviar o texto sem concluí-lo.
 
O texto terminou assim “Perguntei a Paulo se ele tinha conseguido a grana do devedor, o meu cunhado respondeu que”
 
Agora, já com o problema do teclado solucionado, posso continuar.
 
4- O meu cunhado respondeu que conseguiu a grana.
Conforme havia combinado comigo, pretendia cedo me dar o dinheiro correspondente à segunda e última parcela de sua dívida.
Falou que só não estava totalmente feliz porque Tadeu estava na maior fossa depois de ter terminado o namoro.
 
Eu fiquei muito aliviado, mas não conseguia esconder o imenso cansaço por ter ficado acordado durante a madrugada.
Conversamos um bocadinho, mas saí logo para tirar uma rápida soneca visando a recuperar o organismo.
Mais tarde eu pretendia ir ao banco efetuar o pagamento referente ao cartão de crédito que estava causando tanta inquietação.
Enfim, exceto Tadeu, todos pareciam aliviados e tranquilos.
 
5- Na manhã, quase não foi possível descansar.
À tarde resolvi minha pendência financeira.
Tive depois um encontro com Júlia que me contou todos os detalhes da noite anterior com o primo.
Percebi, então, que o receio de existir um envolvimento mais quente entre os dois foi uma grande tolice de quem ficou acordado durante a madruga.
Nesse dia não tive contato com Tadeu.
Cheguei no meu AP quase sete da noite, pretendendo dormir imediatamente.
No outro dia, quinta-feira, eu procuraria Tadeu para dar uma força ao amigo.
Por enquanto, ele contaria apenas com o habitual ombro solidário de Paulo na provável “noitada” que os dois certamente fariam.

6- O meu plano era somente descansar, no entanto, quase entrando no AP, uma jovem vizinha pediu para que eu verificasse um e-mail urgente que uma colega dela lhe enviou.
A mensagem tinha a ver com uma chance de emprego.
Abrimos a mensagem que dizia exatamente o seguinte:
 
REBEKINHA KERIDA DEI SIM O NEGÓÇIO AO MEU AMIGO SIM ELE GOSTOU DO K VIU SIM DEPOIS PEDIU PARA ENCONTRAR VC ACHO QUE VAI ROLAR NÃO DESANIMI NÃO PRECISA CHEGAR CEDO ESTOU TE ESPERANDO NO LUGAR COMBINADO
 
7- Vocês podem estar pensando que esse texto é uma invenção, mas é a exata transcrição do que dizia a mensagem virtual.
 
Tentando disfarçar um certo espanto perguntei a Rebeca (Rebekinha) detalhes do perfil de sua amiga e certas informações relacionadas ao conteúdo lido.
Percebi que Rebeca não compreendeu bem o recado, mas a esforçada diarista com seus vinte anos, além da falta de domínio na arte de ler e interpretar, ficou confusa porque o texto não apresentava pontuação alguma.
A mensagem confundiu também a minha mente e deve ter confundido você, leitor ou leitora.
 
Rebeca me explicou que sua amiga trabalha como empregada doméstica, tem dezoito anos, aprendeu a ler e escrever tardiamente, se atrapalha sempre que vai usar o computador dos patrões e diz contar com a ajuda de uma criança da casa quando deseja enviar qualquer e-mail.
Nas horas vagas costuma ler Paulo Coelho, acha muito complicado os livros dele mas admira a sabedoria que o famoso escritor irradia.
 
8- Ana é bastante simpática e brincalhona.
Fez amizade com um vizinho o qual mora ao lado da casa em que ela trabalha.
Esse vizinho prometeu conseguir uma vaga para Rebeca num mercadinho.
Ana pegou o currículo e entregou ao vizinho camarada.
Após essas informações, as coisas começaram a clarear.
 
Sobre Paulo Coelho, eu nada posso comentar.
Nunca li um livro dele, não sei se é complicado nem tive a oportunidade de desfrutar a sabedoria contida nas páginas que escreve.
Nunca li O Alquimista, porém já li O Alienista, escrito por Machado de Assis.
 
Voltando ao que interessa, ficou evidente que o “negócio” da mensagem deve ser o currículo solicitado.
As duas combinaram um encontro no dia seguinte.
Rebeca me perguntou se seria cedo ou tarde, pois não compreendeu bem essa parte.
 
9- Fiquei sem saber o que dizer.
Recomendei ligar para o celular de Ana. Ela me informou que Ana não tinha celular e não quis fornecer o telefone dos patrões.
Como?
Quase não acreditei.
Além de mim, tem gente que também não possui celular?
 
O lugar combinado foi a casa dos patrões de Ana ( Não tinha celular? Gosta de ler Paulo Coelho? Não entende nada, mas admira sua sabedoria?).
 
Recordei que o texto diz NÃO DESANIMI NÃO PRECISA CHEGAR CEDO.
Antes disso o texto fala DEI SIM O NEGÓÇIO AO MEU AMIGO SIM ELE GOSTOU DO K VIU SIM.
Comparando as partes, percebi que nossa bondosa leitora de Paulo Coelho usa demais os advérbios, portanto as partes destacadas acima permitem entender que ela quis dizer “Não desanime não! Precisa chegar cedo.” ou “Não desanime! Não precisa chegar cedo.”.
 
10- Dessa vez não pretendia gastar tempo tentando adivinhar o pensamento de Ana, pois não posso me arriscar a receber novas críticas por não esclarecer o desfecho dessa nova complicação semântica que a pontuação causou, ou melhor, a inexistência de pontuação suscitou.
Talvez estimulado pela sabedoria de Paulo Coelho, eu aconselhei Rebeca a ir cedo na casa dos ricaços onde Ana trabalha.
Se Ana queria pedir para ela ir mais tarde, Rebeca apenas vai ficar aguardando, porém não vale a pena perder tal ótima oportunidade de emprego.
Sem dúvida, é preferível chegar antes do combinado.
 
Assim me despedi de Rebeca, entrei no AP estranhando a coincidência da ambiguidade me visitar duas vezes em menos de vinte e quatro horas.
Esgotado eu precisava, entretanto, dormir.
Esqueci a possibilidade de Rebeca chegar cedo demais, esqueci a desilusão de Tadeu, esqueci que Ana também não tinha celular, esqueci o mundo e, principalmente, esqueci a sabedoria de Paulo Coelho.
Balançando a banana fui para o quarto.

Opa! Que papo é esse?
Acho que preciso explicar o sentido dessa última frase.
Eu costumo sempre saborear uma banana antes de me deitar.
Pensando no assunto, peguei uma banana, comecei a balançar e levei até o quarto.
Decidi comer a banana sentado na minha cama. Quando terminei, deixei a casca no cantinho (o esgotamento era total, a preguiça prevaleceu), deitei e adormeci profundamente.

Um abraço!





Peço a vocês que confiram o meu acróstico PARA ANIMAR ELAS.

http://www.recantodasletras.com.br/acrosticos/3918681
 
Ilmar
Enviado por Ilmar em 06/10/2012
Reeditado em 06/10/2012
Código do texto: T3918717
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