“QUANDO SE ‘DESEJA’ OU ‘DESEJAM’ ALCANÇAR RESULTADOS”?

Segundo a norma culta, o correto é dizer e escrever “quando se deseja alcançar resultados”, uma vez que o sujeito de “deseja” é “alcançar resultados” [“quando alcançar resultados se deseja”].

Os verbos “desejar”, “pretender”, “querer”, “intentar”, “conseguir”, “alcançar”, “lograr”, entre outros de menor uso, quando não formam perífrases [= frase ou recurso verbal que exprime aquilo que poderia ser expresso por menor número de palavras] com outros verbos em voz passiva sintética, exigem a concordância com a oração reduzida de infinitivo. Portanto, “quando se deseja alcançar resultados”. E não: “quando se desejam alcançar resultados”.

Não se deve, entretanto, confundir esse tipo de construção com as do tipo: “Podem-se realizar eventos”. O pronome “se” exerce, nessa frase, função apassivadora, ou seja, o verbo é passivo, e esse fato é indicado pelo pronome “se”. O sujeito, nesses casos, não pode praticar a ação verbal ou é apenas paciente. Assim, em “podem-se realizar eventos”, “eventos” não pratica a ação de “realizar”, mas recebe-a, sofre a ação. Isso quer dizer que “eventos” não é “agente”, mas “paciente” da ação verbal. O sujeito em “podem-se realizar eventos” é “eventos” [= Eventos podem ser realizados].

Em “alugam-se apartamentos” e “vendem-se casas” frases de construção semelhante à anterior, o sujeito é “apartamentos” e “casas”. Resumindo: sujeito no plural pede verbo no plural. Da mesma forma: “Podem-se eliminar as pragas”. E não: “Pode-se eliminar as pragas”. “Podem-se consolidá-los”. E não: “Pode-se consolidá-los”, etc.

Ensina o notável filólogo pátrio CELSO PEDRO LUFT:

“quer-se + INF – ‘Quer-se fazer reformas’, e não *‘Querem-se fazer reformas’, já que *‘São queridas fazer reformas’... é inviável. Para a plur. gram. de ‘querer’ é preciso que o ‘se’ (reflex.) represente o obj. do inf.: ‘querem-se preparar’; mas neste caso, no port. brasileiro, dá-se outra coloc. ao pron.: ‘querem se preparar’, ‘querem preparar-se’”. (ABC da Língua Culta, Editora Globo, s/e, 2010. p. 389).

Do mesmo entendimento perfilam JOÃO BOSCO MEDEIROS e ADILSON GOBBES, para quem:

“Quer-se fazer os demonstrativos. 1. E não: Querem-se fazer os demonstrativos contábeis. O sujeito de quer-se é fazer os demonstrativos contábeis (fazer os demonstrativos contábeis quer-se). Os verbos desejar; pretender; querer; intentar; conseguir; alcançar; lograr, quando não formam perífrases com outros verbos em voz passiva sintética, exigem a concordância com a oração reduzida de infinitivo. Portanto, pretende-se fazer os demonstrativos contábeis. E não: pretendem-se fazer os demonstrativos contábeis. 2. Não se confunda tal construção com as do tipo: Podem-se realizar jogos. O pronome se exerce na frase função apassivadora, ou seja, o verbo é passivo, e tal fato é indicado pelo pronome se. O sujeito, nesses casos, não pode praticar a ação verbal ou é apenas paciente. Assim, em podem-se realizar jogos, “Jogos” não pratica a ação de realizar, mas recebe-a, sofre a ação; isto quer dizer que jogos não é agente, mas paciente da ação verbal. O sujeito em podem-se realizar jogos é jogos (verifique a frase ativa: Jogos podem ser realizados). Em alugam-se casas, frase semelhante estruturalmente à anterior, o sujeito é casas. Ora, sujeito no plural pede verbo no plural. Da mesma forma: Podem-se eliminar as causas dos desvios. E não: Pode-se eliminar as causas dos desvios. Podem-se consolidá-los. E não: Pode-se consolidá-los. Podem-se alcançar também os que, não tendo o ‘sursis’, mereçam a reinserção social pela obtenção antecipada da liberdade. E não: Pode-se alcançar também os que, não tendo o ‘sursis’, mereçam a reinserção social pela obtenção antecipada da liberdade.” (Dicionário de Erros Correntes da Língua Portuguesa, Editora Atlas, 5ª ed., 2009, p. 218).

EDUARDO MARTINS, em seu excelente “Manual de Redação e Estilo”, Editora Moderna, 3ª ed., 2000, p. 261, consigna: “Há casos em que a locução verbal fica invariável (o sujeito é o infinitivo). Regra prática: se o infinitivo não puder ser substituído por ser mais particípio, o auxiliar fica no singular. Exemplos: Pretende-se refazer as normas de estilo (não se pode dizer “pretendem ser refeitas”, ao contrário de devem-se refazer as normas, equivalente a devem ser refeitas as normas). Outros exemplos: Não se conseguiu obter informações. / Tenta-se contratar novos funcionários. / Quer-se introduzir novos processos de impressão.”

“As razões da divergência são mais úteis do que as da concordância, porque suscitam reflexão e o reexame de nossas opiniões” — B. Calheiros Bomfim.

David Fares
Enviado por David Fares em 07/06/2013
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