A EXPRESSÃO “CORRER ATRÁS DO PREJUÍZO” [NOSSO ENTENDIMENTO]

Depois de ler, neste espaço, dois textos de autoria do Prof. Domingos Ivan acerca da vislumbrada “ilegitimidade” da expressão “correr atrás do prejuízo”, resolvemos, como mero e eterno aprendiz da Língua Portuguesa, expressar nossa humilde opinião sobre o assunto, sem nenhum objetivo, é claro, de causar polêmica.

Em nosso modesto entendimento, as expressões idiomáticas na Língua Portuguesa, além de não observarem os rígidos critérios gramaticais, quase sempre fogem da lógica. Isso se dá, por exemplo, com as expressões “correr atrás do prejuízo” e “correr atrás de algo”, expressões essas, salvo melhor juízo, há muito cristalizadas na língua.

Lecionam, a propósito, os respeitados JOÃO BOSCO MEDEIROS e ADILSON GOBBES: “Correr atrás do prejuízo. Embora à primeira vista a expressão se revele estranha, visto que ninguém corre atrás do prejuízo, há outras expressões em português em que se afirma pelo contrário. É uma figura de linguagem que se chama lítotes. É o caso, por exemplo, em que se combina a ironia com o eufemismo: ‘João não está em seu juízo perfeito’ (João está completamente maluco).” (Dicionário de Erros Correntes da Língua Portuguesa, Editora Atlas, 5ª ed., 2009, p. 75).

Obtemperam, acerca do tema, CARLOS ALBERTO DE MACEDO ROCHA e CARLOS EDUARDO PENNA DE M. ROCHA: “correr atrás do prejuízo – procurar superar a má fase; dar a volta por cima. Embora a construção da locução sugira ‘ir ao encontro (procurar o) do prejuízo’, deve-se levar em conta que ‘correr atrás de’ significa perseguir. Daí o sentido da locução.” (Dicionário de Locuções e Expressões da Língua Portuguesa, Lexikon Editora Digital Ltda, 1ª ed. 2011, p. 109).

“(...) em matéria de língua portuguesa, cumpre sermos moderados e modestos em nossos juízos, muito cautelosos e prudentes em afirmar o nosso saber e ainda mais em marcar os erros dos outros.” (José Veríssimo, Estudos de Literatura Brasileira).

Portanto, ao reverso do que pensa o ilustre Prof. Domingos Ivan, não estamos sozinhos em nosso humilde entendimento e nem tampouco nos julgando melhor ou pior que ninguém. Longe disso!

Estamos, sim, sendo justos e realizando dignamente nossa honrosa profissão, embora, às vezes, isso até incomode alguns.

Finalizando, e como muito bem observou o linguista britânico DAVID CRYSTAL: “Muita gente acha que o uso da língua deve ser avaliado na medida em que segue os princípios da lógica. Desse ponto de vista, a matemática é o uso ideal da língua.” (The Cambridge Encyclopaedia of Language, Cambridge University Press, 1987, p. 3).

Para reflexão: “Ter razão é tão perigoso que muitas pessoas acham melhor não ter nenhuma.” — Carlos Drummond de Andrade

David Fares
Enviado por David Fares em 22/09/2013
Reeditado em 22/09/2013
Código do texto: T4492989
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