O VERNACULISMO DE MACHADO DE ASSIS

Este singelo texto é dedicado ao nosso amigo e recantista AMÉRICO PAZ que, assim como nós, é também forte admirador das obras machadianas.

Nem mesmo o grande e insubstituível MACHADO DE ASSIS escapou de severas críticas quanto ao correto uso do idioma. A respeito do vernaculismo desse nosso grande e insubstituível escritor, veja-se o que disse o ilustrado catedrático HEMETÉRIO JOSÉ DOS SANTOS:

“Tive sempre pela obra de Machado de Assis o sentimento que desperta o trabalho chinês de acurada paciência em papelão, lata ou chumbo derretido; efêmero, porque a ausência de fundo que se lhe nota não tem força de eternizar a forma; passageiro, porque essa mesma forma não se estima, e não se valoriza pela excelência da construção e pela variedade dos materiais.

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Machado de Assis não foi um observador fiel do nosso modo de ser, um psicólogo, mesmo no corrente sentido desta palavra, durante a sua vida muito alongada, e sempre bafejada pelo carinho dos seus e pelo aconchego que sempre teve de estranhos, o que o elevou às posições culminantes do nosso mundo burocrático e literário.

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O segredo da arte de machado de Assis é primário e rudimentar: está num vocabulário minguado e pobre, repetido tão amiúde, indo e tornando, passeando incessantemente sobre uma mesma tônica, que o leitor acaba por adormecer.

Quem ler duas ou três páginas de D. Casmurro, Braz Cubas e Memorial de Aires tem lido toda a sua obra.

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Muito tem sido gabada a forma de Machado; e no entanto, nada talvez haja mais acoimado de imperfeições. É banal que as cousas nos ferem somente pelo modo porque são ditas; pois o estilo está antes no valor das palavras, e nas suas relações orquestrais do que em qualquer outro artifício: não há literatura sem língua, como não há estilo sem gramática.

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O abuso do pronome e as repetições de um mesmo termo duas e mais vezes na mesma página, como — algo, e outros descuidos sérios, eu não os trasladarei para aqui, pois seria copiar de novo qualquer livro de Machado.

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O Braz Cubas e D. Casmurro, tantas vezes lidos e relidos, pelo autor, seriam um belo tratado das misérias humanas, um “a, b, c” doirado para mancebos libertinos, senão tivessem tantas e tão variadas incorreções de forma e de estilo.” (Revista Brasiliana, vol. XII, pp. 181, 187, 188 e 192).

Que Machado de Assis recebera ácidas críticas revelam os trechos já transcritos e este do ilustrado ex-presidente EPITÁCIO PESSOA:

“É verdade que uma vez, em conversa, qualifiquei Machado de Assis, não de “péssimo funcionário”, mas de “péssimo secretário”. Esta qualificação, talvez um tanto severa demais, fundava-a eu na falta de método e na demora e confusão de que se ressentia a sua ação no preparo, exposição e despacho do expediente do Ministério da Viação, pelo menos durante os três meses que ali serviu como meu secretário.” (Obras Completas, Edição do Instituto Nacional do Livro, vol. XX, p. 147).

De qualquer forma, quem somos nós para questionar a autoridade linguística e acadêmica de Machado de Assis...

Observação: Trata-se de texto embasado em obras de domínio público.

David Fares
Enviado por David Fares em 15/11/2013
Reeditado em 15/11/2013
Código do texto: T4571573
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