O erro crasso no “Bom Dia Angola” (*) - Littera-Lu (pontuação)

A Televisão Pública de Angola (TPA 1) saúda diariamente os seus telespectadores com um “Bom Dia Angola”, através de um programa informativo que ocupa as manhãs da televisão pública.

Fá-lo, contudo, de forma displicente, insatisfatória. Refiro-me à ausência de vírgula entre a saudação matinal e Angola, a qual pode passar despercebida ao olho menos atento, mas que, na verdade, dá origem a um erro sintáctico crasso: estando em posição de vocativo, o nome Angola deverá ser obrigatoriamente separado por vírgula.

O vocativo é o termo sintáctico que representa a pessoa a quem o emissor se dirige. Este termo provém do latim vocativu (que, por sua vez, provém do verbo vocare: «dirigir a palavra a alguém») e deve ser sempre separado dos outros elementos por uma vírgula.

E desengane-se quem julga que a vírgula é um adereço meramente estilístico. A presença ou ausência de uma vírgula pode alterar o significado de uma frase:

— Cumprimentaste o professor David Fares?

— Cumprimentaste o professor, David Fares?

Assim, para que a saudação da TPA 1 faça sorrir os angolanos, dia após dia, o nome do programa deverá incluir este nobre sinal de pontuação, passando assim a ser: «Bom Dia, Angola!».

(*)[Excerto adaptado do artigo "O erro crasso no “Bom dia Portugal” " de Sandra Duarte Tavares, linguista e consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, publicado na rubrica Pelourinho em 23.12.2010.]