MEIO – ADVÉRBIO – CONCORDÂNCIA – OUTRO ENFOQUE
Segundo a gramática normativa, o vocábulo MEIO, quando funciona como ADVÉRBIO, NÃO deve sofrer variação. Nada obstante, alguns de nossos melhores escritores dão-nos exemplos em que MEIO aparece FLEXIONADO, embora adverbialmente empregado.
Exemplos:
“Cadáveres meios enterrados nas ruínas.” (Camilo Castelo Branco, O Judeu, II, p. 267).
“A carne dos cavalos meia crua.” (Alexandre Herculano).
“Os outros corpos estão meios podres.” (Padre Manuel Bernardes).
“Deixando a porta meia aberta.” (Antônio Feliciano de Castilho).
“Tinha toda a vida nos olhos; a boca meia aberta, parecia beber as palavras da sobrinha, ansiosamente, como um cordial.” (Machado de Assis, Várias Histórias, p. 247).
“Esse moço aí de branco! Não! o outro, de cara meia triste, tome a sua direita!” (Mário de Andrade, Candinha p. 114).
“Decerto não era nada. Meia inquieta adormeceu.” (Mário de Andrade, Belazarte, p. 178).
A última e completa versão do renomado Dicionário AURÉLIO consigna expressamente:
“meio
[...]
Advérbio.
22.Por metade; um pouco; um tanto; quase:
Anda meio doente. [Há muitos exemplos, no português antigo como no moderno, desse advérbio flexionado (caso de concordância por atração):
“a cabeça do Rubião meia inclinada” (Machado de Assis, Quincas Borba, p. 67);
“casou meia defunta” (Id., Várias Histórias, p. 97);
“a mesma mulher, sempre nua ou meia despida” (Eça de Queirós, A Cidade e as Serras, p. 366);
“Uns caem meios mortos, e outros vão / A ajuda convocando do Alcorão.” (Luís de Camões, Os Lusíadas, III, 50);
“cinzeiros com cigarros meios fumados” (José Régio, Histórias de Mulheres, pp. 45-46).]”
Coisas da nossa curiosa e apaixonante Língua Portuguesa...
Para reflexão: “Conscientizar-se da própria ignorância é um grande passo para aprender.” — Benjamin Disraeli