A Anomalia do Advérbio Meio

Revista Brasileira -1861 a 1979, pág.128: " ... a anomalia do advérbio 'meio' apresentar-se-nos flexionado, com as seguintes palavras: 'O adjetivo meio (junto de adjetivos e particípios) emprega-se adverbialmente ou em forma invariável ou concordando por atração, com o substantivo a que pertence o adjetivo ou o particípio.

Maximino Maciel escreveu: 'Meio fica invariável significando um tanto, e variável, significando metade, ex.: "bandeira meia vermelha", conquanto ocorrem escritores notáveis indiferentemente usados, por atração, conforme o gosto, a sonoridade da frase, a harmonia da construção' (Gramática Descritiva,8ª edição,pág.175).

Augusto Moreno, filólogo português, em Joio na Seara,p.186,diz: 'A conclusão é que tanto podemos empregar o adjetivo como o advérbio.'

Para ele, tanto meio, modificando adjetivo ou verbo, pode ser invariável ou variavelmente.

De opinião idêntica era o insigne Leite de Vasconcelos, que declarou: 'Tem por si (meia disposta etc) grandes autoridades. Tão portuguesa é uma como outra'. (Referia-se à construção.) Opúsculos,1122.

Estamos em que com mais acerto opinou Epifânio Dias.Temos apenas um caso de atração, uma anomalia, embora essa não seja a opinião por tantos modos merecedora de apreço de Rui Barbosa, que escreveu na 'Réplica', para justificar o emprego do advérbio meio variável: 'Esta sintaxe praticavam os primeiros clássicos portugueses. E desse fato da linguagem não faz conta o professor Carneiro, cuja regra adverbializa o adjetivo meio quando anteposto a outro adjetivo.'

À palavra de Rui, redarguiu Ernesto Ribeiro com as seguintes: 'Não é exato dizer o dr. Rui que não faço conta dos exemplos de clássicos notáveis, que fazem variável o vocábulo meio, em expressões como as seguintes: "meia pagã" (R.da Silva), "meia eclipsada" (id.), "meios mortos" (Camões), "meias calvas" (A.Herc.), "meia crua" (D.Nunes), "meios podres" (Bernardes), "meia quebrada" (A.Herc.), "meia aberta" (Castilho).'

É tão verdade, ao contrário, que não deito à margem os exemplos dos clássicos, que em nossos Serões, apresentamos oito frases contrárias à regra que adotamos, e a que nos atemos.

Já, em nossa Gramática Filosófica, registrando esses exemplos, os havíamos apontado, escrevendo o seguinte: Encontram-se, todavia, os seguintes exemplos nos nossos melhores escritores antigos e modernos... E assim refletíamos: Sendo o vocábulo meio em tais exemplos um advérbio, parece-nos mais razoável escrevê-lo invariável, conforme preceitua a maioria dos bons gramáticos, de acordo igualmente com muitos clássicos e escritores de boa nota.' (Já na página 129) '.... Não sou eu [Carneiro Ribeiro] quem adverbializa o vocábulo meio colocado antes de um adjetivo e modificando-o:comigo pensam muitos gramáticos.

Que importa que se encontre em escritores de renome a palavra "meio", variando de forma, quando, em última análise nada mais é, em tais casos, que um advérbio, que modifica o adjetivo, a que se ajunta?

Mudou ilogicamente de forma, é certo, mas não mudou de função; é advérbio ou, segundo a fraseologia de Harris, um atributo de atributo, que assim este gramático apelida o advérbio.

Nem menos explícito que Morais, José de Castilho e Silva Túlio, nem menos rigoroso do que eu, foi, com relação a este ponto de gramática, o esclarecido filólogo Cândido de Figueiredo, que assim escreve em suas Lições Práticas da Língua Portuguesa: "'gente meia disposta a pensar'. Gente meia disposta... não é cá de casa. É como quem diz: as calças meias cosidas, os livros meios lidos, as ruas meias limpas. Mas, quem assim diz, diz mal, embora contra esta afirmativa, se possam citar exemplos insulados de um ou outro escritor de fama.

A coisa é assim: 'gente meio disposta', 'calças meio cosidas', 'livros meio lidos', 'ruas meio limpas.'

Quem conhece um pouco a linguagem sabe que, neste caso, meio não é adjetivo, mas sim uma forma adverbial, invariável, como a palavra demasiado em certos casos....' " (Ernesto Carneiro, "A Redação do Projeto do Código Civil", páginas 320 e 321).

Recomendo ainda que se leia: Erra,Caro David,Quem Assim Escreve (Texto:4617367). Meio(Texto:4616005).

Américo Paz
Enviado por Américo Paz em 19/12/2013
Código do texto: T4618640
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