BOM SENSO [SEM HÍFEN] – OUTRO ENFOQUE

O presente texto é dedicado ao Prof. Domingos Ivan, destacado correcantista que, assim como nós, tem um grande apreço pelo idioma pátrio.

Nossos mais autorizados a atualizados dicionários [AURÉLIO e HOUAISS] NÃO registram, de fato, o vocábulo BOM SENSO com hífen. Isso, portanto, é uma realidade. É um fato!

Mas a questão do emprego do hífen, a nosso sentir, NUNCA foi bem resolvida na Língua Portuguesa, tanto que sempre houve acirrados debates entre estudiosos do idioma e renomados gramáticos aqui no Brasil.

O renomado Prof. SÉRGIO NOGUEIRA adverte:

“Não há dúvida: falta coerência no uso do hífen. O mestre Mattoso Câmara Jr. afirmou que ‘o emprego deste sinal é incoerente e confuso’. Os mestres e estudiosos divergem entre si e, muitas vezes, do que ficou estabelecido no Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (PVOLP) de 1943.” (O-R-T-O-G-R-A-F-I-A, Editora Rocco Ltda, 1ª ed., 2009, p. 59).

Em relação ao vocábulo BOM SENSO, por exemplo, a 5.ª e última edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – VOLP [2009], registra tão somente a forma hifenizada BOM-SENSO [p. 126], e dando como plural a forma BONS-SENSOS. É só conferir!

É sempre oportuno lembrar que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa [VOLP] é uma espécie de dicionário que lista as palavras reconhecidas oficialmente como pertencentes ao nosso idioma e lhes fornece a grafia oficial, muito embora não lhes dê o significado. É ele elaborado pela Academia Brasileira de Letras, a qual tem a responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à vetusta Lei Eduardo Ramos [Lei n.º 726, de 8 de dezembro de 1900]. Assim, pensamos que, diante da incumbência advinda de lei específica, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa goza de autoridade legal para, no campo da lexicografia, dizer o direito, motivo pelo qual, ao consultá-lo, devemos prestar-lhe obediência, como devemos fazer com respeito aos demais diplomas legais.

Para nós, não há dúvida nenhuma: O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), quer queiramos ou não, é a fonte oficial para consulta sobre questões ortográficas. Se ele registra bom-senso, com hífen, na norma-padrão é assim que teremos de grafar.

O “Novíssimo Aulete – Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa [2011]”, assim como a 5.ª e última edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – VOLP [2009], também só registra a forma hifenizada BOM-SENSO, e dando como plural a forma BONS-SENSOS [cf. p. 232]. É só conferir!

Aliás, a grafia do vocábulo BOM-SENSO [com hífen] não é nova entre nós. O grande CÂNDIDO JUCÁ (filho), por exemplo, na p. 110 de seu imortalizado “Dicionário Escolar das Dificuldades da Língua Portuguesa”, Editora FENAME, 3ª ed., 2ª tir., 1963, consigna expressamente: “bom-senso – senso, equilíbrio, ponderação, juízo, siso”.

Ensina-nos, a propósito do tema, o festejado gramático e dicionarista pátrio LUIZ ANTONIO SACCONI:

“DEVO ESCREVER ‘MAU GOSTO’ OU ‘MAU-GOSTO’, COM HÍFEN?

Na língua contemporânea, melhor será usar o hífen não só aí, mas também em ‘bom-gosto’, ‘boa-vontade’, ‘má-vontade’, ‘bom-humor’, ‘mau-humor’, ‘BOM-SENSO’, ‘mau-senso’, ‘bom-juízo’ e ‘mau-juízo’. No entanto, desses nomes só ‘boa-fé’, ‘má-fé’ e ‘bom-senso’ constam da 5.ª edição do VOLP, o que não deixa de ser mais um de seus contrassensos. Sendo assim, não há erro em grafá-las sem hífen, com exceção, naturalmente, das três citadas. Não resta dúvida, todavia, de que muito melhor será construir ‘muita boa-vontade’, ‘pouca boa-vontade’, ‘mais mau-gosto’, ‘mais bom-humor’, etc., do que ‘muito boa vontade’, ‘pouco boa vontade’, ‘pior gosto’, ‘melhor humor’, etc., como quer o VOLP.

Quem usará ‘Ela tem melhor gosto que o meu?’ Todos não usamos ‘Ela tem mais bom-gosto que o meu?’ Não usando o hífen, teremos “mais bom”: ‘Ela tem “mais bom” gosto que o meu.’ É bom?”. (Não Erre Mais!, Editora Nova Geração, 30.ª ed., pp. 298/299). (destacamos o vocábulo “bom-senso”).

Em excelente artigo intitulado “ABL, VOLP E CHACRINHA”, adverte novamente o festejado gramático e dicionarista LUIZ ANTONIO SACCONI:

“Bom-senso

Saiu, finalmente, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) e, com ele, saíram também algumas bobagens, alguns contrassensos e várias inépcias. Por exemplo: registra-se agora ‘bom-senso’ (com hífen), o que já preconizávamos desde a época de Camões, mas incompreensivelmente não se registra boa-vontade, má-vontade, bom-gosto, mau-gosto, bom-humor e mau-humor. Ora, se bom-senso tem de levar hífen (e tem), essas outras também têm, por absoluta coerência de critério. Além do quê, aquele que registra bom-senso também tem de registrar o antônimo, mau-senso (que não aparece também em nenhum dicionário).”

Esperamos, mais uma vez, ter apenas colaborado!

David Fares
Enviado por David Fares em 21/12/2013
Reeditado em 05/01/2014
Código do texto: T4620533
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