ESTÓRIA / HISTÓRIA – OUTRO ENFOQUE

O presente texto é dedicado ao Prof. Domingos Ivan, destacado recantista que, assim como nós, tem um grande apreço pelo idioma pátrio.

A distinção entre esses dois vocábulos, em nosso modesto entendimento, existe e já se encontra arraigada há muitos anos na Língua Portuguesa, haja vista possuírem os vocábulos “estória” e “história” significados bem distintos.

Nosso entendimento, aliás, encontra-se respaldado nas sempre sábias e doutas lições do grande gramático e dicionarista pátrio LUIZ ANTONIO SACCONI, para quem:

“história / estória

Urge estabelecer a distinção entre “história” e “estória”, como já fizeram João Ribeiro, Câmara Cascudo e tantos outros insignes brasileiros. Guimarães Rosa, um de nossos mais revolucionários e notáveis escritores, escreveu “Primeiras estórias” (contos, 1962). Todos eles teriam cometido equívoco? Todos teriam vacilado? A distinção entre as formas “história” e “estória” é uma questão de bom-senso, e não propriamente de etimologia, de ciência.

A forma “estória” nos vem do inglês “story”, trata-se em verdade de um estrangeirismo como outro qualquer e merece, sim, toda a consideração. Ou você também é avesso aos estrangeirismos? Se for, não se envolva com informática! Se for, não se meta com futebol nem muito menos com esportes radicais! Se preferir ser ranzinza, ranheta, você vai acabar ficando confinado numa jaula linguística. Não vale a pena: a vida é curta!

Ademais, “estória” não é só um anglicismo, senão uma forma arcaica do próprio português. João Ribeiro, o gramático, em 1919 já admitia o seu emprego, a par de “história”. Foi ele quem sugeriu o emprego da palavra. Câmara Cascudo, um grande brasileiro, acatou-lhe a sugestão, além de tantos outros insignes escritores nacionais.

“História” é ciência, é o que jamais se inventa; é o que existe ou o que existiu como fato; é fato comprovado por documentos. Sendo assim, “estórias” jamais ganharão o “status” de “histórias”. Nenhuma “estória” faz “história”; vira conto, narrativa. Mas a “história” propicia muitas “estórias” engraçadas. Houve já um autor nacional que resolveu contar-nos passagens dos bastidores da nossa história. Intitulou a obra desta forma: “Estórias da nossa história”. Perfeito.

Ademais, “estória” não é só um anglicismo, senão uma forma arcaica do próprio português. João Ribeiro, o gramático, em 1919 já admitia o seu emprego, a par de “história”. Foi ele quem sugeriu o emprego da palavra, na acepção de balela, lorota, conversa mole ou na de ficção: ‘Não me venha com “estórias”!’ *** ‘Criança gosta mesmo é de “estórias” em quadrinhos’.

Repare ainda nestas frases, em que só cabe mesmo o emprego de “estória”, aqui equivalente de “complicação”: ‘Deus me livre de “estória” com a polícia!’ ‘Não há uma pessoa na cidade que queira “estória” com essa gente’. É bem verdade que muitos de nossos escritores, principalmente os regionalistas, relutaram em usar “estória” e, na dúvida, empregavam mesmo “história”, para não criarem polêmica.

É mais do que sabido que a única grafia cientificamente defensável, no português, é “história”. Não é esse, porém, o ponto que se discute. Se as maiores autoridades em lexicografia latina já registravam “história” por “causo” ou por “conversa fiada”, é hora de estabelecermos a distinção, para maior clareza da comunicação, por bom-senso (que não faz ciência, mas é virtude sempre indispensável). Um ladrão ou um bandido, à frente de um juiz, nunca jamais contará a “história”; preocupar-se-á com “estórias”, porque a verdade conspira contra ele.

O “Dicionário do folclore brasileiro”, de Luís da Câmara Cascudo, traz a forma “estória”, além da informação de que em Portugal o conde de Sabugosa, no prefácio de “Damas de tempos idos”, propõe a forma que tanta abominação causa a certos autores e escritores brasileiros, muitos deles caturras por excelência. Caldas Aulete registra a forma “estória”, além de outros lexicógrafos de nomeada. Nós estabelecemos a diferença e fazemos questão de nos nortear por ela. O leitor que dela não se convencer estará livre para encerrar-se definitivamente na “história”, quando contarem “causos”: não ofende a língua, mas agride firmemente o bom-senso! [...]” (Não erre mais!, Editora Nova Geração, 30ª ed., 2010, pp. 98/100).

Colhe-se do Dicionário Michaelis on line:

“estória

es.tó.ria

sf (gr historía) Narrativa de lendas, contos tradicionais de ficção; “causo”: “Ouviram atentos aquelas estórias de mentira, da ‘mula sem cabeça’, do saci, do curupira. Mais tarde tiveram que mergulhar fundo nas histórias de verdade, para saber como foi construído o Brasil” (Francisco Marins). E. em quadrinhos: série de desenhos, em uma série de quadros, que representam uma estória, com legendas ou sem elas. E. da carochinha: conto da carochinha. Estórias do arco da velha: coisas inverossímeis, inacreditáveis. Estória para boi dormir, gír: conversa enfadonha, com intuito de embair; conversa fiada. Deixar-se de estórias: evitar rodeios, indo logo ao ponto principal.”

Advirta-se, além disso, que a 5ª e última edição [2009] do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – VOLP registra, como legítimo, o vocábulo ESTÓRIA, é só conferir!

Esperamos, mais uma vez, ter apenas colaborado!

David Fares
Enviado por David Fares em 24/01/2014
Reeditado em 26/01/2014
Código do texto: T4662518
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