ANOS “SESSENTAS”, DE NOVO... [NOSSO ENTENDIMENTO]

Depois de ler, neste nobre espaço cultural, um lúcido texto de autoria de nosso amigo e ilustre recantista Littera Lu acerca da construção “Anos ‘sessentas’, de novo...” [Código do Texto T4746764], resolvemos, como mero e eterno aprendiz da Língua Portuguesa, expressar nossa humilde e despretensiosa opinião sobre o assunto, sem nenhum objetivo, é claro, de causar polêmica ou mal-estar.

Em nosso humilde entendimento, e embora haja, de fato, uma grande controvérsia acerca desse tipo de construção na língua, estamos de acordo com o que lecionam os excelentes estudiosos abaixo citados.

Segundo nos ensina o festejado gramático e dicionarista LUIZ ANTONIO SACCONI:

“Os anos ‘noventa’ foram bons ou ruins?

R) De minha parte, devo dizer que nunca vi esses anos. Vivi, porém, muito

bem os ‘anos noventas’, assim como muito bem vivi os ‘anos sessentas’, os ‘anos setentas’ e os ‘anos oitentas’. A explicação aqui é fácil e muito simples: como o nome dos números varia normalmente, não existe em rigor ‘anos noventa’. Note: estamos falando em NOME dos números. Em suma: estamos falando em um SUBSTANTIVO. Sim, porque se forem numerais, não haverá variação. Por exemplo: você não poderá dizer que seu avô chegou aos ‘noventas’ anos. Por quê? Porque nessa frase o que há é um ‘numeral’, e não um substantivo. Lembra-se daquela famosa marchinha carnavalesca que começa com a repetição desta frase: ‘Faz um quatro aí que eu quero ver?’ Pois bem. Esse ‘quatro’ aí não é numeral, é um substantivo. Sendo assim, a marchinha poderia ter pedido para que fizéssemos não um, mas dois ‘quatros’. Todavia, se um bêbado não consegue fazer nem mesmo um quatro, que se dirá de dois ‘quatros’! Apesar de tudo, o MUNDO continua dizendo anos ‘noventa’, anos ‘setenta’, anos ‘sessenta’, etc. (Não, desculpe, minto, o MUNDO não: os portugueses da ilha da Madeira dizem anos ‘vintes’, anos ‘trintas’, anos ‘quarentas’, anos ‘cinquentas’, anos ‘sessentas’, anos ‘setentas’, anos ‘oitentas’, ano ‘noventas’.). Já chegaram a dizer por aí que nos anos ‘sessenta’ se amarrava cachorro com linguiça. Em verdade, nos 'anos sessentas' eu nunca vi isso ...” (Não Erre Mais!, Editora Nova Geração, 30.ª ed., 2010, pp. 283/284).

Leciona JOSUÉ MACHADO que, na substantivação, não há motivo para abandonar os numerais sem flexão para o plural. Exs.: a) “As eleições dos anos noventas serão diferentes com as urnas eletrônicas”; b) “Os ladrões do Congresso transformavam cincos em cinquentas” c) “Os noves do baralho foram marcados”. (Manual da Falta de Estilo, Editora Best Seller, 2ª ed., 1994, p. 71).

O renomado filólogo pátrio VITTÓRIO BERGO, por sua vez, também leciona que as palavras substantivadas seguem geralmente as regras normais de flexão para o plural, segundo a sua terminação, como é o caso de os noves. (Consultor de Gramática e de Estilística, Livraria Editora Zélio Valverde, 1943, p. 191).

Para o gramático DOMINGOS PASCHOAL CEGALLA, por um lado, “numerais substantivados terminados por fonema vocálico formam o plural como os substantivos: dois uns, quatro setes, prova dos noves fora, dois cens”; por outro lado, ficam invariáveis os que finalizam por fonema consonantal: ‘No teste, João tirou quatro seis e dois dez’”. (Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, Editora Nova Fronteira, 2.ª ed., 1999, p. 285).

Coisas da nossa intrigante e admirável Língua Portuguesa...

Conclusão: “Não há língua definitiva e inalteravelmente formada. Todas se formam, reformam e transformam continuamente.” — Rui Barbosa

David Fares
Enviado por David Fares em 28/03/2014
Reeditado em 28/03/2014
Código do texto: T4747042
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