COMENTAR “SOBRE”

Temos lido e escutado, com certa frequência, a equivocada regência “comentar sobre” em grandes jornais, revistas, livros, arrazoados forenses e até mesmo aqui no Recanto das Letras. Trata-se, advirta-se, de construção indiscutivelmente equivocada à luz da gramática normativa.

O verbo comentar, segundo a gramática normativa, é transitivo direto, ou seja, não admite a preposição “sobre” ao ligar-se a seu objeto. Esse objeto, é óbvio, chama-se direto porque se liga diretamente ao verbo.

Exemplos:

O jornalista comentou esse fato. [e não: “sobre” esse fato]

No salão, comentava-se o casamento da bela Leudegunda [e não: “sobre” o casamento...]

Filisbina e Hermenegilda comentavam a nova moda do verão. [e não: “sobre” a nova...]

Ensina-nos o grande gramático e dicionarista LUIZ ANTÔNIO SACCONI:

“comentar ‘sobre’

Também não existe essa regência na norma culta. Quem comenta, comenta alguma coisa. Ou seja: o verbo comentar é transitivo direto, portanto não se usa com preposição nenhuma: O presidente ‘comentou’ a crise e disse que ela será quase imperceptível para nós, brasileiros, que a sentirá mais como uma marolinha que como um tsunami. * * * O ministro afirmou que não ‘comenta’ o assunto, porque não é da sua competência.

Num grande jornal carioca, ao dar a notícia sobre a renúncia da ministra Marina Silva: Planalto ainda não comentou “sobre” o pedido, mas a ministra do Meio Ambiente afirma que decisão é irrevogável.

Num grande jornal paulista: Na quinta-feira, profissionais das mesas de operações de bancos e corretoras comentavam “sobre” o temor de uma demora ainda maior para aprovação do pacote.

Bastaria retirar a preposição para que tudo ficasse muito mais elegante. Um dicionário (aquele) fornece, no verbete ‘comentar’, exemplo errôneo do emprego desse verbo. Mais um, menos um, não vai fazer nenhuma diferença.” (Não Erre Mais!, Editora Nova Geração, 30.ª ed., 2010, p. 227).

A mesma lição ensinam-nos os não menos autorizados JOÃO BOSCO MEDEIROS e ADILSON GOBBES:

“Comentar. Explicar, interpretar. Admite a seguinte construção: ‘O articulista comentou o fato’, e não ‘sobre o fato’”. (Dicionário de Erros Correntes da Língua Portuguesa, Editora Atlas, 5.ª ed., 2009.p. 60).

Para reflexão: “Os que leem sabem muito, mas os que observam sabem muito mais.” — Alexandre Dumas Filho

David Fares
Enviado por David Fares em 21/04/2014
Reeditado em 21/04/2014
Código do texto: T4776802
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.