"SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO"

A frase em questão (na verdade, são duas orações) merece ser abordada tanto pela análise sintática quanto pela lógica.

Primeiramente, consideremos que "Sorria" e "Você está sendo filmado" são duas orações coordenadas. Neste caso, a segunda é uma oração explicativa, pois se apresenta justificando a anterior. É sorrir pela alegria de ser filmado. No caso, temos a elipse das conjunções "pois", "que" ou "porquanto". É como dizer: "Sorria, pois você está sendo filmado", ou "Sorria, que você está sendo filmado", ou ainda "Sorria, porquanto você está sendo filmado".

Por outro ângulo, também podemos considerar que a segunda oração é subordinada à primeira. Neste caso, seria subordinada adverbial causal. Ou seja, o fato de ser filmado seria a causa do sorriso. A elipse na segunda oração estaria nas expressões "visto que", "desde que" e "já que".

Até aqui é gramática. Mas agora diga: você costuma sorrir ao saber que está sendo filmado num lugar público? Os aparelhos que registram imagens são hoje colocados em bancos, lojas, hospitais e até mesmo em postes de vias públicas com o objetivo de flagrar pessoas desonestas, de comportamento em desacordo com a lei. O ladrão não vai sorrir ao saber que está sendo filmado, só se for também muito seguro de si e muito cara de pau. Vai rir mesmo depois de safar-se com o produto do roubo.

Mudando um pouco a frase, ela poderia servir para o dono ou os funcionários da loja: "Sorria, que os seus fregueses e clientes estão sendo filmados". Ou, dirigida a todos os que saem ao fervilhante comércio: "Cuidado, que você está sendo filmado".

A frase é bonita, veio e ficou. Mas é incoerente, falta a lógica na coisa, o que qualquer pessoa pode perceber, mesmo sem entender de gramática.

Egon Werner
Enviado por Egon Werner em 09/11/2014
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