PERDA OU PERCA? QUAIS AS DIFERENÇAS?

Prólogo

Certa ocasião, não faz muito tempo, ouvi, em um ônibus da linha centro-DETRAN, duas senhoras que conversavam animadamente. Uma delas dizia: “A perca do cunhado dela foi muito sofrida” (SIC). A outra senhora, mais jovem, disse: “ É verdade. A perda de um ente querido é muito triste. ” (SIC).

Chamou-me a atenção o diálogo porque percebi a utilização das palavras “perca” e “perda” como se fossem iguais no que diz respeito aos significados. Pois essa conversa me inspirou e escolhi esclarecer a diferença entre o uso das palavras perda e perca, como o tema gramatical para este artigo. É de bom grado informar que em quaisquer gramáticas do idioma pátrio poderemos encontrar essa explicação com mais detalhes.

EXPLICANDO AS DIFERENÇAS ENTRE PERDA E PERCA

As duas palavras existem na língua portuguesa e estão corretas. Todavia, é preciso muito cuidado ao utilizar estas palavras gramaticalmente diferentes. A senhora mais jovem estava correta ao dizer: “ É verdade. A perda de um ente querido é muito triste. ” (SIC). Já a primeira e mais idosa senhora trocou o substantivo “perda” pelo verbo “perca”. Claro que na ocasião, por aceitação nem sempre lógica da linguagem coloquial, as senhoras se entendiam, mas uma outra pessoa de mediana acuidade auditiva poderia não compreender a conversa das comadres.

A palavra perda é um substantivo feminino, sinônimo de extravio, sumiço, privação, dano e fim. Perca é a forma conjugada do verbo perder na 1.ª ou na 3.ª pessoa do singular do presente do subjuntivo ou na 3.ª pessoa do singular do imperativo. Perder significa, principalmente, o ato de ficar sem alguma coisa.

As palavras perca e perda são escritas de forma parecida e são pronunciadas de forma parecida, mas seus significados são diferentes. A este tipo de palavras chamamos palavras parônimas. Na língua portuguesa, existem diversas palavras parônimas: perca/perda, precursor/percursor, aferir/auferir, imergir/emergir, diferido/deferido, discriminar/descriminar, iminente/eminente, retificar/ratificar, entre outras.

Perda – é um substantivo que significa se privar (desapossar, excluir) de alguém ou de algo que se tinha. É fácil saber porque SEMPRE QUE FOR SUBSTANTIVO, admitirá um ARTIGO, PRONOME OU NUMERAL antes desse termo.

Exemplos:

a) Espero que não haja a perda de bagagens nesta companhia aérea.

b) Analu está triste, pois a perda do cunhado a abalou muito.

c) O carro do falecido ficou totalmente destruído. Deu perda total.

Perca - é uma forma verbal, ou seja, flexão do verbo “perder”. Aparece na primeira e terceira pessoa do singular do presente do subjuntivo e na 3ª pessoa do singular do imperativo.

Exemplos:

a) Não perca tempo comigo! (3ª pessoa do singular do imperativo).

b) Não quero que ele perca esse emprego! (3ª pessoa do singular do presente do subjuntivo).

c) Espero que ele não perca a cabeça ao conversar com ela. (3ª pessoa do singular do presente do subjuntivo).

CONCLUSÃO

Perda: é o substantivo que corresponde ao verbo “perder” e tem sentido aproximado de “pessoa que se priva de algo ou de alguém por algum motivo”, “dano sofrido”, “prejuízo”.

Perca: é uma forma verbal do verbo “perder”, a qual pode estar na primeira ou terceira pessoa do singular do presente do subjuntivo ou ainda na terceira pessoa do singular do imperativo.

É muito comum as construções “Não quero que ela perda sua vaga” ou “Ver esse programa é perca de tempo”.

Estas orações estão incorretas, baseado no que vimos acima. Na primeira oração seria “perca”, pois, a segunda oração deste período (que ela perda sua vaga) está no presente do subjuntivo e exige um verbo. O certo seria: Não quero que ela perca sua vaga.

Já na segunda oração, o sentido é de privação, pois alguém está perdendo o tempo que tinha ao ver o programa. Logo, essas orações usuais, apresentadas acima estão incorretas. No entanto, o seu uso na língua coloquial é justificável, já que são muito parecidas.

Estou com perda de cabelos tentando ensinar o que todos os estudantes de nível médio já deveriam saber. Claro que não me importo nem um pouco com essa suposta perda de tempo.

Aos amigos estudantes solicito que não percam as esperanças e tampouco desejo que percam suas horas de profícuo estudo com esse texto simples em demasia.

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NOTAS REFERENCIADAS

— Novíssima Gramática da Língua Portuguesa - Domingos Paschoal Cegalla;

— Moderna Gramática Portuguesa - Evanildo Bechara;

— Assuntos Relacionados da Academia Brasileira de Letras;

— Papéis avulsos e outros rabiscos do Autor;

— Textos e anotações avulsas (Curso de Pós-Graduação) do autor que devem ser consideradas circunstâncias imparciais.