Colocação dos Pronomes Oblíquos Átonos
Segundo o Ritmo e a Melodia das Sequências


A fala humana é essencialmente musical e, consequentemente, rítmica e melódica; e os modos de colocação dos pronomes oblíquos átonos no interior da frase decorrem  justamente daí.
 
Descobrimos isso fazendo a pergunta: por que é que, quando escrevemos, mesmo sem termos que pensar em regras gramaticais, não erramos, senão raramente, na colocação dos pronomes oblíquos átonos no interior da frase?
 
A resposta que nos veio de imediato foi: dependendo da maneira como as palavras são distribuídas no interior de uma sequência verbal, esta pode agradar ou não agradar à nossa sensibilidade. E, em vista disso, procuramos sempre a distribuição que mais nos agrada.
 
Fizemos então uma análise, comparando entre si os modos de distribuições a que os gramáticos chamam de próclese, ênclise e mesóclise, e descobrimos que a razão de ser destes três modos de colocação do pronome oblíquo átono em relação ao verbo (antes, depois ou no meio) está no ritmo e na melodia da sequência aí elaborada e, consequentemente, daquilo que agrada ou não agrada à nossa sensibilidade.
 
Por exemplo: /Isto não se faz/, agrada à nossa sensibilidade; /Isso não faz-se/, não agrada. Por isso, quando estamos escrevendo, optamos pela primeira versão e descartamos a segunda, mesmo sem conhecer (ou conhecendo muito pouco) as regras gramaticais quanto a este aspecto.
 
Mas, por quê é que a primeira opção nos agrada, e a segunda opção não nos agrada?
 
Examinando os dois tipos de sequências, notamos que: se na sequência /Isso não se faz/, um som fraco vem entre dois sons fortes (/não/se/faz/); na sequência /Isso não faz-se/, um som fraco vem depois de dois sons fortes (/não/faz/se/).
 
Deduzimos então que, quando a sequência verbal é constituída da relação (forte/fraco/forte), ela soa mais agradável e, além disso, é mais fácil de se pronunciar; e, quando a sequência verbal é constituída da relação  (forte/forte/fraco), ela soa menos agradável e, além disso, é mais difícil de se pronunciar. Num caso, exige-se menos esforço; no outro, mais esforço.
 
Isso significa que, no primeiro caso, há um equilíbrio ritmicomelódico e, no segundo caso, um desequilíbrio ritmicomelódico.
 
A gramática do português (diferentemente da gramática do espanhol) não aceita começar uma frase com um pronome oblíquo átono.
 
A construção:
 
Se poderia ter chegado mais cedodeve ser descartada, porque não se pode começar uma frase com pronome oblíquo átono;
 
A construção:
 
Poderia-se ter chegado mais cedo deve ser também descartada, porque a relação (/po/de/ria/se) (/forte/forte/forte/fraca/) constitui um ritmo desequilibrado, com uma fraca depois de três fortes, como uma queda no fim de uma subida;
 
A construção:
 
Poder-se-ia ter chegado mais cedo - deve ser aprovada, porque a relação (/poder/se/ia/) (forte/fraca/forte/) soa bem aos nossos ouvidos e agrada à nossa sensibilidade.
 
Fernandes da Silva
Enviado por Fernandes da Silva em 10/02/2019
Reeditado em 28/02/2019
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