Texto I
Trauma de Infância
            Vocês, caros leitores, já pararam para refletir sobre as causas de uma depressãozinha? Já perceberam que o bom e velho analista condiciona nossas neuroses adultas aos traumas de infância? Então...
            Depois de anos de análise, com idas e vindas, caídas e recaídas, um dia fui beliscado pelo vírus desse porquê: Música de Infância. Vejam, ou melhor, escutem o passado. Se ela não é a única, é a principal causa dessa doença moderna, responsável pela despesa extra ocasionada por visitas reiteradas ao médico.
            Do instante em que nascemos, até o primeiro sinal da puberdade, o universo infantil é ritmado. Ainda na maternidade, mal usufruímos o vagido da estranheza, muitos parentes curiosos invadem o quarto da ex-gestante aos berros e coros de alvíssaras à nova e já sofredora vidinha.
            Quando eu era pequenino de pé no chão, eu cortava papel-fino pra fazer balão e cantava: cai, cai balão; não deixa o vento te levar. Santa maldade.
            Antes ainda, ao me separarem do corpo quente e acolhedor de minha mãe, punham-me num quarto vazio de maternidade e entoavam cinicamente a cantiga animal: boi, boi, boi, boi da cara preta, pega esse menino que tem medo de careta. Quanto mais eu chorava, com medo do boi evidentemente, mais cantavam para me desestressar(?).
            Aos seis ou sete anos, observando as meninas brincarem, estranhava, mas não comentava o fato de atirarem o pau no gato e o felino não morrer. Julgava uma judiação, um absurdo. Como não havia corpo, não devia haver crime.
            Lembro-me do dia em que Dona Neide, vizinha carrancuda e devoradora de bolas – todas as que invadiam seu quintal, ela não as devolvia – repreendeu-nos, meninos ingênuos que éramos, por conta de uma paródia que compusemos para irritar as meninas e da qual achávamos a maior graça: “Eu tirei o ‘Piiii’ do gato to / mas o gato to, nem gemeu eu eu; / dona gata ta irritou-se se, / com o gritinhos tão fininhos que ele deu: ui, ui!”
            Doutra feita, pedi à minha tia preferida que me levasse a um passeio de barco, mas a canoa virou... Foi por causa da titia que não soube remar. Terrível experiência. Nunca mais naveguei, a não ser em letras mal combinadas.
            Próximo dos dez anos, ouvi a historia triste de João cuja filha fugiu com Pedro, um peão de boiadeiro, na hora de subir ao altar com o corno, perdão, o noivo Antônio. Acredito que esse episódio tenha motivado o epíteto perpétuo de boi a todos os noivos ou namorados ou maridos desprezados pela filha de um joão-qualquer.
            Como esquecer a briga entre o ciumento Cravo e a despeitada Rosa, estopim de uma tragédia maior, que custou àquele alguns ferimentos e a esta, despedaçada, algumas cirurgias de reconstrução? As más línguas da época insinuavam que a culpa era de um tal Pai Francisco, violeiro de índole discutível, que, ao dedilhar seu instrumento, foi repreendido pelo Seu Delegado. O desacato motivou a prisão do músico, conduzido por uma joaninha novinha em folha. Paga uma fiança simbólica, Pai Francisco dirigiu-se ao primeiro boteco, encheu de álcool a corrente sanguínea e, requebrando como moleque desengonçado, acabou tropeçando em suas pernas arquejantes destruindo o jardim do Seu Nicolau. A camélia, tentando acompanhar o incidente, perdeu o equilíbrio, caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu. O jardineiro chorou. Eu chorei. O mundo chorou.
            Estava crescendo. Começava a sentir-me estranho. As meninas, antes chatas, desprezíveis, idiotas, agora me emocionavam. Queria estar com elas, especialmente Teresinha de Jesus. Morena, olhos azuis, cabelos lisos. De repente descobri-me apaixonado. Meu primeiro amor.
            Certo dia minha amada escorregou numa casca de banana – aos sábados, havia uma feira na nossa rua – e foi ao chão. Corri para acudir a minha deusa, fui o terceiro a chegar. O primeiro foi seu pai; o segundo, seu irmão... A desalmada aceitou a mão de José Ricardo da Rocha Rego, um vizinho três casas adiante. Eu queria matar esse menino... Não, a ela. Como a ingrata podia gostar de alguém que tem Rego? Revoltante, mas com o tempo eu descobriria e participaria de algumas artimanhas de (sobre)viver a dois.
            Apesar da descoberta, ou em função dela, pode-se perceber que homens maduros como eu tivemos mais sorte. Fomos crianças na plenitude de sua essência, tínhamos infância. Vivemos tempos difíceis, mas coexistimos com a mais antiga forma de expressão de felicidade: sabíamos cantar a vida, a alegria, as descobertas. Nada nos vinha pronto, como hoje, pássaros engaiolados que não conhecem a linha do horizonte, não a sentem concreta. Nossos filhos vivem num mundo virtual, produzido pela violência, pela intolerância e pela miséria.
Talvez já não existam anjos canoros... Talvez mini-games manipulados pela tristeza do isolamento e da solidão.               
(Nelson Maia Schocair)
1- Apesar de ter um apelo de depoimento, o texto, em determinado momento estabelece uma sugestão dialógica na seguinte passagem:
a) “Do instante em que nascemos...” 3º§
b) “...todas as que invadiam seu quintal...” – 7º§
c) “Eu chorei. O mundo chorou” – 11º§
d) “Vocês já pararam para refletir...” – 1º§
e) “...e participaria de algumas artimanhas de (sobre)viver a dois” – 13º§
 
2- O texto “Trauma de Infância” tem como tese:
a) as origens das cantigas infantis longínquas;
b) o trauma de a infância não ser mais infância;
c) a descoberta de se chegar à maturidade;
d) a ignorância dos nossos filhos na modernidade virtual;
e) a análise que o autor fez recordando a infância.
 
3- O texto de Nel de Moraes é um mosaico criado a partir de uma série de cantigas infantis para montar seu discurso. Esse recurso textual se deve a uma utilização de:
a) autobiografismo;
b) polissemia;
c) polifonia;
d) metalinguagem;
e) referencialidade.
 
4- Em “As meninas, antes chatas, desprezíveis, idiotas, agora me emocionavam.”, ao final do 12º§, estabelece que tipo de relação de sentido?
a) mutação
b) superação
c) condicionamento
d) evolução
e) aperfeiçoamento

5- Uma das razões para que o autor-narrador utilizasse cantigas da infância para mostrar o seu “Trauma de Infância” pode ser vista:
a) nas imagens ingênuas de cada cantiga;
b) nas saudades que ele sentia da infância;
c) na puerilidade da infância e na da fase adulta;
d) na brutalidade com que contou a trajetória de sua infância.
e) na apreciação negativista da infância por meio das cantigas.
 
6- No 9º§ parágrafo, o autor diz: “Nunca mais naveguei, a não ser em letras mal combinadas”. Qual a relação de sentido observada entre as duas orações?
a) Oposição                           
b) Consequência
c) Conformação                    
d) Explicação
e) Condição
 
7- Ao final da leitura, percebe-se que o texto apresenta um hiato na temporalidade narrativa relativo a que fase da vida do cronista?
a) A infância
b) A pré-adolescência
c) A juventude
d) A velhice
e) A maturidade
 
 
8- Com relação à presença das cantigas infantis, pode-se dizer que elas serviram, no texto, para contar a vida do autor-narrador e:
a) mostrar a tragédia da nossa sociedade ocidental;
b) evidenciar a dificuldade de todas as crianças para cantar;
c) rememorar fatos peremptórios de sua felicidade no passado;
d) reconstruir, segundo o narrador, os “bastidores” das histórias contadas;
e) omitir a real vida que o autor-narrador teve na infância.
 
9- O último parágrafo do texto diz: “Talvez já não existam anjos canoros... Talvez mini-games manipulados pela tristeza e pelo isolamento”. Reescrevendo-se a elipse da segunda oração, a alternativa correta está em:
a) “Talvez já não existam anjos canoros... Talvez EXISTEM mini-games manipulados pela tristeza e pelo isolamento”.
b) “Talvez já não existam anjos canoros... Talvez HAJAM mini-games manipulados pela tristeza e pelo isolamento”.
c) “Talvez já não existam anjos canoros... Talvez PENSEM EM mini-games manipulados pela tristeza e pelo isolamento”.
d) “Talvez já não existam anjos canoros... Talvez EXISTIRIAM mini-games manipulados pela tristeza e pelo isolamento”.
e) “Talvez já não existam anjos canoros... Talvez SÓ EXISTAM mini-games manipulados pela tristeza e pelo isolamento”.
 
10- A alternativa que corresponde ao provérbio-síntese mais adequado ao texto “Trauma de Infância” pode ser vista em:
a) “Se não há felicidades nesse mundo, vamos ter que ser felizes sem ela”;
b) “A ficção revela verdades que a realidade esconde”;
c) “As convicções são mais perigosas do que as mentiras” – Nietzsche;
d) “Para atingir seus objetivos, o diabo é capaz de citar as Escrituras” -  Shakespeare;
e) “Depois da tempestade vem a bonança”
 
Texto II
Pílula reduz efeito de exercício físico
As jovens que fazem exercícios físicos regularmente e usam pílulas anticoncepcionais podem não conseguir um aumento da resistência óssea verificado em mulheres que se exercitam e não usam anticoncepcionais orais, sugere um trabalho publicado na revista Medicine & Science in Sports & Exercise. As descobertas indicam que elas podem estar comprometendo suas chances de atingir picos de massa óssea em pontos importantes do corpo.
 
11- O texto da matéria expande seu titulo, em termos de informação, pela inserção de dados que este não contempla. Aponte a alternativa que não registra um desses dados:
a) A pouca resistência óssea nas mulheres que se exercitam, mas usam pílulas.
b) A especificidade do agente do exercício físico.
c) A origem da informação que constitui a base da matéria.
d) A causa possível do efeito reduzido pela pílula.
e) O efeito provocado pelo exercício físico.
 
12- Assinale a opção que contém silogismo que “explica” corretamente o contido no texto:
O aumento da resistência óssea decorre dos exercícios físicos / Mulheres que fazem exercícios físicos usam pílulas anticoncepcionais / Logo, essas mulheres não terão aumento da resistência óssea.
a) O uso de pílulas anticoncepcionais inibe o aumento da resistência óssea nas mulheres / Há mulheres que fazem exercícios regulares com vistas ao aumento da resistência óssea e usam  pílulas anticoncepcionais / Logo, apesar de tais exercícios,  essas mulheres podem obter o aumento da resistência óssea.
b) Os exercícios físicos provocam aumento de resistência óssea entre as mulheres / Algumas dessas mulheres usam pílulas anticoncepcionais / Logo, os exercícios físicos não garantem, sozinhos, o aumento da resistência óssea entre as mulheres.
c) O uso de pílulas anticoncepcionais pode inibir o aumento da resistência óssea nas mulheres / Há mulheres que fazem exercícios regulares com vistas ao aumento da resistência  óssea,  mas  usam  pílulas anticoncepcionais / Logo, apesar de tais exercícios, essas mulheres podem não obter o aumento da resistência óssea.
d) Há mulheres que usam anticoncepcionais e pretendem um aumento de sua resistência óssea / Tais mulheres fazem regularmente exercícios físicos / Logo, essas mulheres, apesar das pílulas, podem atingir o aumento pretendido.
e) Há mulheres que usam anticoncepcionais visando a um aumento de sua resistência muscular / Tais mulheres fazem regularmente exercícios físicos / Logo, essas mulheres, se não usarem pílulas, podem atingir o aumento pretendido.

13- Em “As descobertas indicam que elas podem estar comprometendo suas chances de atingir picos de massa óssea em pontos importantes do corpo.” A reescritura correta na voz passiva ocorre na seguinte alternativa.
a) “As descobertas indicam que podem estar sendo  comprometidos suas chances de atingir picos de massa óssea em pontos importantes do corpo.”
b) “As descobertas indicam que as chances de atingir picos de massa óssea em pontos importantes do corpo podem estar sendo comprometidas por elas.”
c) “As descobertas indicam que elas podem estar  sendo comprometidas em suas chances de atingir picos de massa óssea em pontos importantes do corpo.”
d) “As descobertas indicam que podem estar sendo comprometidas suas chances de elas atingirem picos de massa óssea em pontos importantes do corpo.”
e) “As descobertas indicam que as chances de atingir picos de massa óssea em pontos importantes do corpo podem estar sendo comprometidos por elas.”
 
 
 
As QUESTÕES 14 a 20 apresentam a mesma formulação, ou seja, deve‑se marcar o item cuja frase se apresenta redigida da forma mais adequada, considerando‑se clareza, elegância, precisão e correção.
 
14-
(A) Necessito de que uma parte dos advogados averigúem a questão da lentidão judicial.
(B) Necessito que uma parte dos advogados averigúem a questão da lentidão judicial.
(C) Necessito que uma parte dos advogados averiguem a questão da lentidão judicial.
(D) Necessito de que uma parte dos advogados averigue a questão da lentidão judicial.
(E) Necessito que uma parte dos advogados averigúe a questão da lentidão judicial.
 
 
 
 
15-­
(A) Ontem só 15% dos alunos foram de encontro as ideias divulgadas pela direção.
(B) Ontem, 15% só dos alunos foram de encontro às ideias divulgadas, pela diresão.
(C) Ontem, só 15% dos alunos foi ao encontro às ideias divulgadas pela diressão.
(D) Ontem, 15% dos alunos só foram de encontro das ideias divulgadas pela direção.
(E) Ontem, só 15% dos alunos foram de encontro às ideias divulgadas pela direção.
 
16-
(A) O ascensorista avisou aos passageiros das novas regras para a viajem em seu elevador.
(B) O assensorista avizou aos passageiros as novas regras para a viajem em seu elevador.
(C) O ascensorista avisou os passageiros das novas regras para a viagem em seu elevador.
(D) O ascensorista avizou os passageiros das novas regras para a viajem em seu elevador.
(E) O assensorista avisou aos passageiros das novas regras para a viagem em seu elevador.
 
17-
(A) Quando reouver o prestígio abalado, o escritor reivindicará melhores condições.
(B) Quando reaver o prestígio abalado, o escritor reinvindicará melhores condições.
(C) Quando reouver o prestígio abalado, o escritor reinvindicará melhores condições.
(D) Quando reouver o prestíjio abalado, o escritor reivindicará melhores condições.
(E) Quando reaver o prestíjio abalado, o escritor reivindicará melhores condições.
 
18-
(A) Os médicos receavam que o coma não se reverteria.
(B) Os médicos receiavam que o coma não reverteria-se.
(C) Os médicos receavam que a coma não se reverteria.
(D) Os médicos receiavam que o coma não se reverteria.
(E) Os médicos receiavam que a coma não se reverteria.
19-
(A) O fato de as estradas estarem esburacadas impediu que a freada funcionasse à contento.
(B) O fato das estradas estarem esburacadas impediu que a freiada funcionasse a contento.
(C) O fato das estradas estar esburacadas impediu que a freada funcionasse a contento.
(D) O fato de as estradas estarem esburacadas impediram que a freiada funcionasse à contento.
(E) O fato de as estradas estarem esburacadas impediu que a freada funcionasse a contento.
 
20-
(A) Quando o professor encontrou o aluno informou-lhe que não havia como melhorar a nota da prova.
(B) Quando o professor encontrou o aluno, informou-lhe de que não havia como melhorar a nota da prova.
(C) Quando o professor encontrou o aluno, informou-o que não havia como melhorar a nota da prova.
(D) Quando o professor encontrou o aluno, informou-lhe que não havia como melhorar a nota da prova.
(E) Quando o professor encontrou o aluno informou-o de que não havia como melhorar a nota da prova.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
 

Gabarito do Simulado 3
1 D
2 B
3 C
4 A
5 E
6 A
7 C
8 D
9 E
10 B
11 D
12 C
13 B
14 D
15 E
16 C
17 A
18 A
19 E
20 D