A SECA

Uma bilha tombada

sequiosa de água

um pé de salsa ressequida

Um cão que passa ao longe

não reconhece o dono

nem o escaldante sol

Na fonte abandonada

uma sombra solitária

tudo está deserto

Aldeia silenciosa

o gado está fora

desde alta madrugada

Paira o desespero

no coração da cigarra

que perdeu a fala

Não há crianças no povo

procuram sedentas

seu naco de pão

As sombras saíram

buscam lugares

mais apetecidos

Nas soleiras das portas

pendem recados

e uma esperança que chega

Nem novos nem velhos

dizem a quem passa

o nome que têm

Virá o cangalheiro,

o Zé da Bomba,

o da sotaina preta ?

Ninguém vê ninguém

passa ténue o boato

que amanhã virá chuva !

Frassino Machado

In HAIKAI

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 27/07/2005
Reeditado em 16/01/2008
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