BIFE PARA OS CACHORROS

Tenho três cachorros. Para eles, não interessa se estou com a conta bancária no vermelho ou se tenho tanto dinheiro para sair torrando por aí. Minha casa, para os meus cachorros, estando eu junto a eles, vai ser sempre uma mansão. Definitivamente, não gostam que eu saia sem eles. Ficam aos “gritos”, implorando, no portão, para que eu volte. Minha ausência causa choradeiras transformadas em uivos. Os vizinhos, espero, hão de entender!

Quando retorno, ao me verem, fazem uma festa de causar inveja a qualquer dono de buffet. Sinto-me, nesse momento, um “pop star”. Tratam-me como se eu fosse um rei. Esse, para mim, é o amor verdadeiro, sem interesse, descompromissado, que esquece rapidamente a palmada, a qual, de vez em quando, faz-se necessária. Mas... é apenas uma palmada! Os rabos balançam numa “frenesi” descontrolada, demonstrando, com lambidas molhadas, que perdoam meu descontrole emocional, talvez devido ao estresse do dia-a-dia. Não importa se sua camisa branca ficará marcada com pegadas de barro amorosas. Assinaturas de felicidades caninas. Desconhecem e são totalmente indiferentes às regras falhas e impostas do ser humano para o próprio ser humano. São, os cachorros, substancialmente genuínos, no modo de viver a vida. Não são dissimulados, contudo, verdadeiros.

Cara, você é um sortudo! Alguém, aqui embaixo, gosta de você. Meus cachorros são meus fãs; ficam com os olhos brilhando na fila do gargarejo, deslumbrando, quem sabe, um deus, um protetor, um pastor que os levará aos bons caminhos ou, simplesmente, um reles mortal que garantirá sua sobrevivência, porém não abrem mão de sua presença junto a eles, seja na calçada fria de uma noite chuvosa, debaixo de patamares de instituições públicas ou no conforto do calor de edredons, em um apartamento de cobertura.

Essa dissertação é minha homenagem a vocês, meus cachorros, os quais adotei, em virtude de estarem abandonados, perambulando pelas ruas de minha cidade. Glorinha, Kalunga e Fiel, esses são seus nomes. Amo vocês e, com vocês, certamente, não só reparto, mas tiro de meu prato o bife, ofertando-lhes, num simples ato de reconhecimento de não ter como pagar-lhes o amor incondicional dispensado a mim.

Obrigado, meus filhos, por tudo. Acho que, sinceramente, não merecia tanto!

O bife é todo de vocês!!!