Um pedaço de mim

Meu tio toca violão;

E como toca bonito o violão que meu tio toca;

O violão bonito que meu tio toca

Toca o meu tio e a mim me toca;

E fico quieto olhando meu tio

Que pára e me olha, sorri e me chama

Pra perto de si; e volta a tocar;

Não ouso falar, só ouço a magia

Do som que se espalha;

Meu tio se espraia nas cordas do pinho

E deixa estampado em seu rosto bonito

O gozo da alma liberta.

O tempo passou e meu tio, pra longe mudou-se,

Levou o seu pinho de cordas de aço

E eu não tive mais notícias

Daquele pedaço de mim;

Mas hoje, eis que chega fazendo festa,

Trazendo com ele o seu violão,

Estão iguaiszinhos, o pinho e meu tio,

Com as marcas do tempo, é claro

Tantos anos que não se passaram

Apenas nos presentearam com belas cãs;

E meus olhos ficaram embaçados

Ao ver meu pedaço comigo de novo

E ele tocou bonito o velho pinho de cordas de aço,

Olhou pra mim e me sorriu o mesmo sorriso;

E eu, outra vez menino, fui para o seu lado

Ouvir o violão que meu tio toca,

E como toca bonito o violão,

O violão bonito que meu tio toca

Toca o meu tio, e a mim me toca.

Vander Dunguel
Enviado por Vander Dunguel em 24/07/2008
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