As meninas do futebol brasileiro

Hoje eu chorei. Chorei pelo futebol. Coisa que não fazia há muito tempo. Já chorei pelo meu time de coração inúmeras vezes, já chorei pela seleção brasileira em duas ocasiões: A primeira em 1982 quando vi uma das melhores seleções de todos os tempos ser castigada pela Itália, comandada por desconhecido – que saiu da cadeia – e que arrasou nosso time: Paulo Rossi. Que fez três gols, e depois disso nunca mais fez nada de interessante em sua carreira como jogador de futebol. Como presidiário eu não sei. Lembro até hoje a escalação de 82: Valdir Perez, Leandro, Oscar e Luizinho, Junior, Toninho Cerezo e Falcão, Sócrates e Zico e no ataque Éder e Serginho. O técnico era o inesquecível Tele Santana. Ah! Que time encantador, que time de raça, time que enche de orgulho até hoje. Depois chorei em 94, o time não era tão bom quanto o de 82, mas era sem dúvida um time de raça, raça representada pelo atual técnico da seleção – Dunga – que comandou o time num misto de raça e emoção que não vimos nem sombra em 90. Não vamos aqui comentar o Dunga como técnico – não vale à pena. Nesta ocasião chorei porque nunca tinha visto o Brasil campeão. Me contentava com vídeos de 70. Ali, vi ao vivo, o Brasil campeão. Vi Ricardo Rocha e Ricardo Gomes, dupla de zaga reserva, que por um capricho do destino, assumiram a vaga de titulares. Vi Romário, vi Bebeto, vi Taffarel. Quem não se lembra do “chato” Galvão Bueno gritando: “Sai que é sua Taffarel”. Chorei. Chorei quando Baggio – melhor jogador do mundo – perdeu o pênalti. Chorei de emoção.

E hoje (21/08/2008) choro novamente. E choro, mais uma vez de pura emoção. Emoção em ver Marta - a melhor jogadora do mundo - levantar as mãos pro céu, e perguntar: “Meu Deus, o que eu fiz de errado?” Eu respondia sozinho, nada Marta, nada de errado. Você fez tudo certo. Mas futebol é assim mesmo. Chorei quando vi a mãe de Marta – uma mulher humilde de Alagoas, com um orgulho imenso, mas humilde, chorando na tevê. Um choro comovente, um choro que misturava a tristeza de não ver a filha campeã, ao orgulho de ver a filha representar nosso país, nossa dignidade, que muitos pensavam estar perdida no meio futebolístico.

A raça e a vontade estava estampada no rosto de cada jogadora brasileira. O amor a pátria e a camisa amarela, estavam ali presentes a todo o momento, e isso contagiou a todos nós brasileiros, que torcíamos que há muito tempo não fazíamos.

Ali víamos um futebol apaixonado, o jogo por amor, sem qualquer interesse financeiro – era nítido isso no semblante de nossas jogadoras – Víamos a entrega de nossas meninas: física, mental e por que não dizer espiritual? Sim espiritual. Sinto-me orgulhoso de ser brasileiro, de tê-las como representantes do nosso país e do nosso futebol. Nada disso, tenho sentido com o time masculino – mas isso não vem ao caso.

Ver Bárbara desabar no chão, e chorar... chorar... Me fez chorar mais uma vez, mas não por ter perdido a medalha de ouro. Não! De forma alguma. Chorar de orgulho.

Parabéns meninas, vocês merecem.

Agora me resta torcer para que os clubes brasileiros – inclusive o meu Corinthians – valorizem as mulheres no esporte bretão, criem o campeonato brasileiro feminino, e ai quem sabe, poderemos voltar a torcer com amor, com paixão. Gritando apenas palavras de incentivo, ao invés de ouvirmos no estádio gritos como: Mercenários e outras coisas piores.