SEU NOME É ALINE

SEU NOME É ALINE

Sil Cervantes

Ela veio correndo de bicicleta, pelo lado de fora da escola,

eu estava no intervalo querendo fumar um cigarrinho

escondido deles...

Eu a vi, reconheci, mas não lembrei o nome. Ela estava diferente,

haviam se passado cinco anos pelos meus cálculos.

Lembrei que havia encontrado uma foto antiga dela

no meio da arrumação do armário na volta do segundo semestre.

Entrei na sala peguei a foto e li o nome:

ALINE!

Sim, como pude me esquecer?

Voltei a tempo de gritar:

_ Alineeeeeeee!

Vem aqui na grade, quero te dar uma coisa...

Percebi que ela tremia muito, encostou o rostinho na grade para eu beijá-la, segurou minhas mãos e a beijou.

Disse:

_ Estou tremendo, olha!

Perguntei o porquê, e ela não soube explicar, apenas disse que estava com muita saudade.

Um amiginho que estava com ela disse:

Ela fala de você o tempo todo...

Confesso que não acreditei que isso fosse possível.

Cinco anos é muito tempo quando se é criança.

Foi quando ela correu até a bicicleta e retirou da bolsinha rosa uma cartinha.

Entregou-me com os olhos molhados...

Eu abri e li:

De Aline "a" sua aluna.

Silvana, te amo.

Se eu chorei?

Hum, nem preciso dizer...

O amiguinho ainda disse:

_ Ela fala tanto em você que até eu queria conhecê-la...

Despediram-se e partiram,

talvez para mais uns cinco anos...

Antes, virou-se e lembrou:

Eu ainda lembro todas as músicas

que você me ensinou!

Não consegui mais trabalhar direto neste dia.

Será que ela se lembrava do grito que eu dei quando ela sujou todo o uniforme de tinta guache?

Em tantos anos de profissão, jamais parei para pensar

o quanto nossos atos podem significar para estes seres tão pequeninos, estes que serão os adultos de amanhã.

É muita, muita, muita responsabilidade!

Ainda não havia me dado conta disso...

Não é o que se ensina, mas como se ensina!

Como eu pude esquecer seu nome?

Como?

E ela que nem imaginava me ver naquele dia, mantinha a cartinha em sua bolsa rosa...

E por trás da mocinha feita, o mesmo riso,

o mesmo olhar brejeiro da infância.

EDUCAÇÃO INFANTIL!

A FORMAÇÃO DO CARÁTER

POR TRÁS DO BRINCAR...

BRINCAR DE SER FELIZ!

Silvana Cervantes
Enviado por Silvana Cervantes em 23/08/2008
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