SAL DA TERRA

Deixo-te morrer em paz

Descansa no sono dos justos

Mas peço-te: - Antes,

ama, ama, ama...

Sorve até a última gota!...

Ama que o Amor é divino!

Entre duas guerras, vive uma vida linda

sem medo dos desamores

Desfila por este mundo vestida de Afrodite

empacotando teus desejos com sedas

e rendas puras para mancebos

de fino trato, enfeitiçando o retrato

Quando encontrares o Amor,

deixa-o deslizar seus dedos

entre mares e montanhas do teu corpo

Deixa que te possuam em frêmitos

ao som da Pastorale de Beethoven

Te entrega como se fosse esse o último momento

Ama de todas as formas

que nem Florbela amou

Destila palavras doces em tua poesia

em tantos versos, rimas e marfins

Encarna em ti os poetas que

em outros tempos só cantaram o Amor

Mostra que és o sal da terra

entre gemidos, pruridos e outros ais,

queimando incensos e mirras

dispostos em bronzes e cristais

Deixa que o aroma dos jasmins

se confunda com os das rosas e dos laranjais

Deixa que o ouro, as pérolas e as esmeraldas

enfeitem teus dias de felicidade

Que o brilho da luz da lua com

todas as luzes do iluminado sol

reflitam imagens inolvidáveis

a qualquer tempo - como um eterno arrebol

Que Baco te sirva o vinho

dos melhores que dá uma safra

e que a música do oriente te enfeitice,

te enrijeça, te seduza e te adentre,

soltando teu corpo em febre,

em doce dança do ventre

Depois de tantas entregas e mortes

com desassossegados consortes,

ressuscita com o mais puro Amor

e descubra que na sombra de uma velha árvore

muitos ainda procurarão o alento, o prazer e

o carinho de um momento de solidão

Sal,

Feliz aniversário!

12 de março de 2006