A vida como Viagem de Comboio

Existe um sentimento que nem sempre queremos sentir, mas que sempre teima em aparecer, em bater à porta e a esperar. Mas por muito que não se abra, ele sobe a escadas e entra sem pedir autorização.

A saudade desde sempre existiu, mas é nos momentos em que perdemos alguém que mais se sente.

Começaste a coxear, e como sempre atribuímos uma desculpa para isso, não tinha importância e tudo acabou por passar.

Agarraste-te a um grupo que era difícil de mudar, mas com força e coragem como tinhas, sempre dizias que havias de conseguir dominar. Deus era o teu combustível.

Foi quando senti um chamamento e fui levada até ti para te ajudar, quando ouvi uma voz que me fez andar, sem olhar para trás.

Quando se descobriu a doença, ninguém imaginou as consequências que iria ter. Tivemos sempre a tendência para acreditar, para dizer que tudo era passageiro. Deixaste o grupo, para te poderes curar, para uma operação seguida de vários tratamentos difíceis, mas que nunca te conseguiram fazer levantar os braços e desistir. Tudo passou e voltaste para nós.

Um nós que sempre sentiu a tua falta. Mas meses depois o improvável aconteceu e tiveste de te afastar novamente… uma simples célula, unidade básica da vida, tinha-se alojado junto ao cerebelo, provocando-te terríveis dores de cabeça e um grande desequilíbrio.

Mais hospitais, mais médicos, mais exames e por fim, mais tratamentos…o internamento foi indispensável e as chamadas tornaram-se no único meio de transmissão de força, coragem e sobretudo alegria. Mudaram-te para a sala de doentes terminais, a sala onde viste muitas pessoas dar o ultimo suspiro, mesmo ao teu lado, mesmo a olharem-te nos olhos e nem isso te fez desistir.

O nosso Pai quis dar-te a alegria de puderes assistir ao casamento do teu filho, dando-te uma semana de vida normal, junto da tua família e junto de nós, amigos que nuca te esqueceremos. Quis Ele também que mais tarde viesses a piorar e decidiu levar-te a fazer uma viagem para junto Dele.

Hoje, relembro um email que me mandaste 3 meses antes de tudo isto acontecer, um email que comparava a nossa vida a uma viagem de comboio onde estava sempre a entrar pessoas novas em cada estação. Pessoas que podiam ou não tornar-se especiais e outras que íamos conhecendo à medida que fossemos passando pelas diferentes carruagens. Dizia também que muitas dessas pessoas iriam descer numa estação e iriam deixar saudade, mas que não importava, pois a viagem era feita cheia de desafios, sonhos, fantasias, esperas e despedidas. Esta viagem não tinha retorno e por isso devíamos aproveitá-la para encher a bagagem de cada um que viajava connosco.

Nunca saberíamos quando iríamos sair, mas quando o fizéssemos, iríamos ficar a espera daquelas pessoas especiais que viajavam ao nosso lado. Quando as voltássemos a encontrar, certamente trariam uma bagagem muito grande, mas ficaríamos alegres por termos sido uma das pessoas a ajudar a enchê-la. Nesse email, desejaste-me uma viagem feliz e disseste-me que quando saísses estarias a minha espera numa dessas estações para ajudares a pegar na minha bagagem…tu, a pessoa que contribuiu muito para que ela crescesse…tu, grande chefe…tu, grande amigo…

Podes ter partido, mas sempre estarás dentro de nós e vou dar-te um grande abraço quando a minha viagem acabar e te vir lá bem ao fundo, esperando por mim…

Até sempre!

Kinas
Enviado por Kinas em 31/10/2008
Código do texto: T1258401
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