Minha querida Avó

Domingo passado, dezenas de pessoas foram a nossa casa dar o último adeus a nossa querida Heli Aleluia. Gostaríamos de agradecer as palavras e principalmente aos abraços confortantes que recebemos. A gente sempre sabe quando um abraço é verdadeiro. Quem passou mais tempo lá deve ter percebido que nenhum dos filhos, netos e bisnetos ousaram dizer uma palavra de despedida.

Estávamos todos com um nó na garganta. E esse nó apertava mais cada vez que se rezava um terço e entoava os cânticos que escutávamos desde pequeninos. Parece que foram todos escolhidos a dedo ou talvez sussurrados por algum anjinho. E todos contavam uma história em nossas cabeças. E eu sei disso sem precisar perguntar a ninguém, por que eu via as lágrimas e a tristeza dos meus.

Minha avó nos ensinou a rezar, a se comportar na missa e a ler as entrelinhas da Bíblia. Nos vestiu de anjinhos para homenagear a Nossa Senhora, nos ensinava e ensaiava os cânticos para sermos sua “segunda voz” nas reuniões da Igreja, há, e também garçonetes na festa de São Pedro (isso eu não posso esquecer). E eu tenho certeza que nunca vou esquecer as canções que ela me ensinou.

Ela vinha para a missa e se sentava bem na frente. Tinha um cantinho cativo pertinho do coral e de casa, quando ouvia a missa pelo rádio eu tinha certeza que eu ouvia a sua voz.

Minha avó viveu para a sua família. Não só a de sangue, mas a família que ela fez nesta comunidade. Deixou uma família em cada um dos grupos que participou: no Apostolado da Oração, na Legião de Maria, no da Mãe Peregrina, no do Círculo Bíblico, e na terceira Idade.

Amava tudo o que fazia. E fazia tudo com amor. Ela amava servir ao Nosso Senhor e a divulgar sua palavra. Amava cantar e cantarolava o dia inteiro. Amava bordar e pintava e bordava quando tinha vontade. Me ensinou tanta coisa. Nos ensinou tanta coisa.

............

Há alguns meses, recebemos a notícia de que minha avó estava muito doente e de que provavelmente não haveria uma cura para seu corpo. Não dava para acreditar. Mas os sinais foram ficando mais claros. E nós fomos nos preparando aos poucos. E a nossa velhinha forte foi ficando fraquinha, já não andava, nem falava.

Ela faleceu no dia de Nossa Senhora Aparecida. Nós nunca iremos saber, mas foi como se fosse uma escolha, ou um presente. Morreu no dia da Santa a que era devota. Se o céu estava em festa ela foi uma convidada especial.

Heli Aleluia Gomes de Souza faleceu aos 78 anos. Deixa com enormes saudades sua irmã caçula, seus 8 filhos, 22 netos, 8 bisnetos e muitos agregados.

“O que Deus Uniu nessa terra, Nada pode separar.”

A gente se vê em breve Vovó. Diz pro vovô que a família cresceu e que estamos todos com saudades.

Escrito em 18/11/2008

Não espero comentários, nem palavras confortantes, embora todos sejam bem vindos. Meu conforto vem cada vez que penso em Deus e cada vez que canto as canções que ela me ensinou. O conforto me abraça ao segurar um novelo de linha e uma agulha e refazer os pontinhos que ela me ensinou. Acredito que aproveitei cada minutinho de nossas vidas juntas, nunca brigamos, mas devo ter levado umas palmadas quando era pequena.

Minha avó me faz crescer!

Quando estiver grande, quero ser como a minha avó!

Sabrina Taury
Enviado por Sabrina Taury em 25/11/2008
Reeditado em 25/11/2008
Código do texto: T1302292
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.